[Crítica] A Lenda de Ochi (2025)
Ao pensarmos em filmes lançados pela A24 desde a sua criação, certamente pensamos em obras voltadas para o público adulto, já que a distribuidora se consolidou como voz forte na comunidade cinematográfica independente. A Lenda de Ochi é o primeiro filme da A24 com classificação livre.
O longa foi baseado em uma história original escrita e dirigida por Isaiah Saxon. Acompanhamos Yuri (Helena Zengel), uma menina tímida que vive em uma vila na ilha de Carpathia. Seu pai, Maxim (Willem Dafoe), e seu irmão adotivo, Petro (Finn Wolfhard), fazem parte de uma equipe que entra na floresta à noite para caçar Ochi, criaturas míticas que os moradores temem e acreditam causar mal aos humanos.

Em uma dessas caçadas, Yuri encontra um bebê Ochi ferido, que está separado do restante de sua família. Ao levar o Ochi para casa, ela logo descobre que eles não são as criaturas aterrorizantes que lhe ensinaram. Então, Yuri deseja ajudar o bebê a retornar ao seu lar e parte pela ilha para encontrá-los, enquanto seu pai e seu irmão tentam encontrá-la.
A Lenda de Ochi é uma agradável carta de amor a filmes como E.T.: O Extraterrestre e Gremlins, aos quais as criaturas se assemelham bastante. O elenco traz atuações sólidas de Helena Zengel e Willem Dafoe, além de Emily Watson, que interpreta a misteriosa Dasha, moradora do alto das montanhas, que recebe a visita de sua filha Yuri para ajudá-la em sua missão com o Ochi.

O mini Ochi é retratado por um boneco surpreendentemente realista, que dá um efeito muito legal a cada cena. Para dar vida ao Ochi, o filme faz uso de marionetes – operadas por sete artistas – animatrônicos e efeitos práticos.
O filme poderia se engrandecer se focasse mais nos aspectos singulares dos Ochi e expandisse a construção desse mundo, em vez de focar apenas nos humanos e em sua busca. Talvez por isso, em alguns momentos A Lenda de Ochi parece um pouco incompleto e sem foco. Apesar de em muitos momentos não parecer ter substância narrativa, o roteiro consegue gerar empatia pelos personagens.
A experiência do diretor em animação faz com que o filme desenvolva a narrativa de forma lenta, sem sobrecarga de diálogos e foco maior em seu visual. É um filme com subtexto e aspecto sensorial, em vez de um enredo explícito. O ritmo é lento e sem muitas surpresas e é possível imaginar como a narrativa irá se desenrolar. Ainda que com uma melancolia latente embaixo da superfície, o filme é uma tentativa de recapturar a magia do cinema de fantasia e aventura, criado sem recorrer a efeitos especiais ou CGI.

O enredo principal de A Lenda de Ochi não é exatamente inovador, mas procura abordar as complexidades de uma família disfuncional sob ótima da protagonista, sem melodrama. É como um clássico dos anos 1990 e dá a sensação de nostalgia, mesmo para quem não viveu essa época. Ideias como compaixão, não julgar o que não entendemos e música como forma de comunicação são alguns dos elementos presentes aqui.
Folclore e fantasia se misturam em uma aventura infantil excêntrica que pode encantar também os adultos. Apesar de não trazer surpresas em termos de história, A Lenda de Ochi marca um início decente para filmes mais familiares da A24, assim como uma boa estreia em longas do roteirista e diretor Isaiah Saxon.
