Crítica

[Crítica] O Esquema Fenício (2025)

Assim como outros filmes de Wes Anderson, O Esquema Fenício é recheado de personagens peculiares, humor ácido, visual meticuloso e atmosfera excêntrica. O enredo do filme gira em torno de negociações comerciais, cronogramas de construção, espionagem governamental, traições e tentativas de assassinato.

Benicio Del Toro interpreta Zsa-zsa Korda, um magnata dos negócios internacionais que possui propriedades em vários países e tenta organizar um enorme projeto de tomada de poder no Mediterrâneo. O filme começa com mais uma tentativa de assassinato de Korda, com uma bomba em seu jatinho. Seu secretário pessoal explode, e Korda expulsa o piloto do jatinho por ousar contrariar suas instruções. Já Korda sobrevive ao seu sexto acidente de avião.

O Esquema Fenício (2025)

A tomada aérea de Korda se recuperando em uma banheira, em um banheiro onde é atendido por várias enfermeiras enquanto os créditos iniciais rolam, é um início forte, elegante e bonito. É um dos melhores momentos do filme. O diretor de fotografia Bruno Delbonnel cria uma atmosfera única ao filmar de cima e Anderson consegue tornar a cena hipnótica ao filmar em câmera lenta e os atores se movendo em ritmo acelerado, capturando uma velocidade única.

Após o acidente e experiência de quase morte, Korda convoca Liesl (Mia Threapleton) para ser sua herdeira “temporariamente”. Ele contrata um novo secretário pessoal, Bjorn (Michael Cera). Acompanhado dos dois, Korda decide renegociar acordos de renda e conseguir um bom retorno para o seu investimento.

O Esquema Fenício (2025)

Korda anuncia de forma despreocupada que seu mais recente plano, a série de projetos de infraestrutura na terra fictícia da Fenícia, utiliza mão de obra escrava e se beneficia da fome local. Foi ele quem iniciou a fome, já que pessoas desesperadas estão mais dispostas a negociar e ficam ansiosas para fazer o que for necessário para impedir a catástrofe. Mas Korda tem um limite: ele nega a possibilidade de matar qualquer pessoa. Sua filha Liesl, uma freira noviça, argumenta que esse aparente limite moral não o impede de contratar outras pessoas para assassinar quem se coloca em seu caminho.

Wes Anderson tem um estilo bem particular de fazer filmes, que consegue ser percebido por qualquer um que já assistiu a uma de suas obras anteriores. A encenação é bem característica, com enquadramentos exatos e design de produção e efeitos visuais que parecem ou são artesanais. O senso de humor é seco e os personagens são pragmáticos, como se fossem um contraste ao nível meticuloso e detalhamente montado e que cada elemento visual do filme foi cuidadosamente planejado.

O Esquema Fenício (2025)

Esteticamente e até na abordagem do tema, os filmes ainda são um Wes Anderson clássico. Temas como disfunção familiar, fracasso e redenção são vistos em O Esquema Fenício. Ao mesmo tempo, é como se o novo filme tivesse feito em um molde pré-estabelecido e embalado sem alma, como um manequim na vitrine de uma loja. O elenco é ótimo e estrelado, mas há um ar de artificialidade durante toda a duração do longa que faz com que ele nunca tenha profundidade emocional. A meticulosidade de sua estética acaba sendo o que sustenta a obra.

Todo o elenco de O Esquema Fenício acerta no tom de seu personagem, desde os papéis mais principais às participações especiais mais breves. Michael Cera é um dos destaques e entrega um Bjorn completo, que tem muito mais a oferecer à história do que parece à primeira vista. O ator se integra com facilidade ao universo de Anderson e parece ter nascido para estrelar um filme do cineasta. Cera consegue interpretar as duas “versões” de Bjorn com maestria.

O Esquema Fenício (2025)

Benicio Del Toro e Mia Threapleton também se destacam, entregando uma dinâmica única entre pai e filha. As cenas de confronto entre eles dois exalam química e naturalidade. Mas o enredo do filme é complexo, e por vezes confuso. O filme é, essencialmente, sobre um pai e uma filha que se unem nas piores circunstâncias. Mas em muitos momentos o longa parece pouco coeso e limitado. Falta a substância por baixo do estilo.

O Esquema Fenício é um filme bonito, com momentos divertidos, atuações únicas e atmosfera inconfundível de Wes Anderson. Mas parece mais preocupado com o estilo do que com a substância, e em alguns momentos parece desleixado, frio, entediante e mais do mesmo. Ao final, apesar de ter tido momentos em que me diverti, saí da sala de cinema indiferente.