Crítica

[Crítica] Tuesday – O Último Abraço (2024)

Tuesday – O Último Abraço tem direção e roteiro de Daina Oniunas-Pusic. O filme mostra a jornada de uma mãe, Zora, interpretada por Julia Louis-Dreyfus, e sua filha adolescente em câncer terminal Tuesday, interpretada por Lola Petticrew. Tuesday está prestes a enfrentar a morte, e é essa caminhada que acompanhamos no filme. A morte, aqui, é retratada como um pássaro falante.

Me surpreendi bastante assistindo ao filme, que é um retrato sensível e poético sobre resiliência e luto. Fui à cabine de imprensa sabendo apenas uma breve sinopse sobre ele e me surpreendi a cada cena e nuance que o longa ganhava à medida que os minutos passavam. O filme é do estúdio A24, conhecido por trazer temas que podem até ser comumente retratados em obras cinematográficas, mas sempre de fora inusitada e fora do comum. É o que acontece aqui. O tema da morte não é raro em filmes, muito pelo contrário, mas a sua representação sendo feita pelo pássaro que não apenas fala como muda de tamanho, aumentando e diminuindo em diferentes momentos, certamente é fora do comum e cria um tom muito mais metafórico e poético ao longa.

A alegoria da morte é feita durante o todo filme sem que haja muita apelação para o melodrama ou trilha sonora induzindo e manipulando os sentimentos do espectador. O filme é feito de cenas sutis e com um tom reflexivo, alegórico, metafórico. Tuesday aceita que está no fim da vida por causa de sua doença terminal e nunca rejeita o pássaro. Ela o recebe com naturalidade, sem medo e até mesmo com carinho, como podemos testemunhar na cena em que ela dá banho no animal.

Tuesday (2024)

A relação de Zora e Tuesday, como acontece em muitas relações de mães e filhas, é cheia de dificuldades e falhas, mas o amor ajuda as duas a trilharem esse caminho de despedida, de mais difícil aceitação para a mãe. Julia Louis-Dreyfus domina cada cena ao interpretar a mãe se preparando para passar por algo tão difícil e traumático. Lola Petticrew também consegue representar muito bem Tuesday e sua jornada enquanto constrói uma amizade com a morte. Enquanto Tuesday aceita o seu destino com menos sofrimento, a sua mãe sai de casa para não lidar com a situação e esconder da filha que está desempregada. Zora está em completa negação e evita ter que lidar com aquilo tudo.

O filme traz várias cenas inusitadas, como a que Zora, lidando com a raiva que sentiu ao conhecer o pássaro, come o animal para evitar que ele leve a sua filha. Assim como o pássaro, ela mesma passa a mudar de tamanho. A premissa e o final podem ser “previsíveis”, mas a jornada é surpreendente e profunda, com bons efeitos visuais servindo de muletas para a história. Em vez de se entregar aos clichês de um tema tão batido, o filme o explora de forma ousada, meditativa e misteriosa. Para gostar do filme, é necessário aceitar e normalizar toda a estranheza mostrada nele. Ao passar por essa etapa, ele se torna uma experiência enriquecedora, ainda que com alguns momentos confusos ou que poderiam ter sido melhor explorados.

Tuesday – O Último Abraço não mostra apenas a trajetória daquela mãe até a morte iminente da filha, como também o que acontece depois disso, o silêncio, a dor e o vazio da ausência após a partida dela, de forma crua e realista. O longa é uma história fora da curva que instiga reflexões profundas sobre temas presentes na vida de qualquer pessoa. O longa tem cenas que podem causar estranheza, ao mesmo tempo em que trata de seus temas de forma interessante e delicada.

Tuesday – O Último Abraço é um filme de realismo mágico, emocional e emocionante, cheio de surrealismo, empático, meditativo, delicado, terno, poético, simples e honesto. O longa aborda uma forma comovente de retratar o luto, além de pincelar temas como possível vida após a morte, deixando a bonita mensagem de que a verdadeira vida após a morte é o legado que os mortos deixam entre os que ficaram. O filme claramente não é de grande orçamento, mas tem grandes ideias e uma forma ambiciosa de abordá-las.

A obra é a estreia da diretora e roteirista Daina Oniunas-Pusic. Apesar de não ser um filme perfeito, a sua peculiaridade e delicadeza chamam atenção e com certeza estarei de olho para os próximos projetos dela.