Crítica

[Crítica] Imaculada (2024)

A religião é um ótimo tema a ser trabalhado em filmes de terror. Toda a estética e atmosfera criam um cenário perfeito para esse gênero de filme. Imaculada é mais um filme de terror que recorre à religião como seu tema central. O filme ficou no papel durante uma década, e só se concretizou agora, após a atriz e protagonista assumir o papel de produtora e fazê-lo acontecer.

Cecilia (Sydney Sweeney) foi a um convento no interior da Itália. Nesse lugar, freiras mais velhas vão viver seus últimos dias. Ela acredita que encontrará o seu verdadeiro propósito ali. Quando era criança, Cecilia caiu em um lago congelado e ficou presa – e tecnicamente morta – por alguns minutos. Ela acredita que Deus a manteve viva para algo grandioso, e também acredita que irá descobrir mais sobre isso no convento. Lá, ela milagrosamente fica grávida, mesmo nunca tendo feito sexo. E esse é o pontapé inicial do filme.

Imaculada (2024)

Imaculada não se aprofunda em alguns pontos e personagens, inclusive na própria Cecilia, mas também acho que essa não era a proposta do filme. Não sabemos tanto assim sobre Cecilia, sobre sua personalidade e mais detalhes sobre sua história. Apesar disso, o cenário sombrio do convento, aliado às atuações dela e dos demais personagens, conseguem criar uma boa atmosfera para a história e para os momentos de tensão e suspense.

Não deixa de ser uma tendência em alguns filmes de terror mostrar eventos estranhos e não explicá-los totalmente (ou mesmo não explicar nada sobre eles). Às vezes, pode parecer que aquilo foi colocado no filme apenas para chocar ou impressionar o público, sem um papel maior na narrativa final. (Como a cena em que um pássaro se choca com a janela e… é isso) Em Imaculada, senti isso sempre que apareciam as freiras com um pano vermelho cobrindo o rosto, por exemplo. Elas podem criar um ar perturbador nas cenas em que aparecem. Mas por que estão ali? Ficamos sem saber… As pontas soltas ou não totalmente desenvolvidas deixam a sensação de que algum potencial do filme não foi aproveitado totalmente.

O filme tem uma boa direção, cenas bonitas e a atuação de Sydney Sweeney se destaca em cada frame. Ela é, sem dúvidas, o ponto alto do filme. À medida que os minutos vão se passando e a gravidez de Cecilia vai avançando, a atuação da atriz fica cada vez mais desesperada e angustiada. As belas imagens com elementos e símbolos católicos adicionam muito à fotografia do filme, como o momento em que Cecilia é adorada como uma santa pelas demais freiras. O filme também tem muito sangue e cenas com efeitos visuais que deixam tudo que está acontecendo bem realista – e agoniante.

Imaculada (2024)

A segunda metade do filme, quando acompanhamos a evolução e fase final da gravidez de Cecilia, remete bastante a O Bebê de Rosemary (1968). Como filme de terror, ele pode potencializar algumas cenas para fazer o público se contorcer na cadeira, mas ainda assim ele traz muitos elementos reais – e nada bonitos ou agradáveis – da gravidez. É normal, por exemplo, o dente ficar mole ou até mesmo cair durante a gravidez. (Aqui uma notícia de 2023 em que uma mãe perdeu todos os dentes após vomitar durante a gravidez). As unhas ficam mais frágeis na gravidez. Esses dois elementos aparecem no filme e servem ao propósito do terror, levando em conta toda a construção da cena e contexto em que aquilo acontece, mas, ainda assim, eles não deixam de ser elementos ancorados na realidade.

Imaculada (2024)

Um tema tratado no filme, e que gerou polêmica, é o da autonomia corporal. O longa também fala sobre os impactos da religião sobre nós, sobre nossos corpos e nossas decisões. O final do filme é tenso, claustrofóbico e corajoso. A tensão aumenta a cada passo que Cecilia dá dentro do labirinto subterrâneo, com sua lanterna que desliga e acende repetidas vezes. Imaculada sugere temas profundos e complexos, embora não se aprofunde tanto.

Nos minutos finais, Cecilia toma para si todo o poder de decisão, que foi tirado dela durante todo o filme. Apesar de não se aprofundar, o filme pincela em temas como a vigilância crescente sobre o corpo, autonomia feminina e aborto. O corajoso final mostra Cecilia finalmente tomando as rédeas da sua narrativa. Na divulgação do filme, o estúdio mostrou críticas do público em que chamavam o longa de “blasfemo, satânico, feminista, pró-aborto e anti-vida que degrada os cristãos” e de “também humilhar Maria, mãe de Cristo”.

Imaculada não é exatamente um filme inovador, segue algumas convenções mais clássicas de filmes de terror, tem vários jumpscares (talvez em excesso em alguns momentos, mas que ainda assim funcionam) e consegue divertir e entreter. Seu maior destaque é a atuação de Sydney Sweeney. O filme é curto e tem um ritmo agitado, bem diferente da atual leva de filmes de terror mais lentos e reflexivos (que eu também adoro).