[Crítica] Doutor Estranho (2016)
Desde que lançou Homem de Ferro, em 2008, a Marvel aperfeiçoa sua fórmula. Apesar de alguns tropeços aqui e ali, o saldo final é de ótimos filmes, que divertem e garantem bons momentos no cinema. E é exatamente isso que Doutor Estranho faz. O filme do diretor Scott Derrickson tem o ótimo Benedict Cumberbatch como protagonista, o Stephen Strange.
Cumberbatch vive o cirurgião renomado e arrogante que sofre um grave acidente de carro. Após o acidente, ele fica incapaz de usar suas mãos, algo essencial para seu trabalho, óbvio. A vibe do filme tem um quê de Marvel sim, mas é bem diferente dos filmes anteriores. Na verdade, até mesmo a HQ publicada por Stan Lee e Steve Ditko em 1963 foi considerada diferente de tudo publicado até então nos quadrinhos de super-heróis. Na época, as HQs misturavam características de super-herói moderno, pitada de horror e muita psicodelia e surrealismo, brincando com mundos, dimensões e universos… tudo com muita cor! E o filme também é assim. Muitas cores, surrealismo e humor, além de traços clássicos dos filmes de super-heróis de hoje em dia.
O filme gasta um bom tempo apresentando o seu personagem principal, mas em momento algum isso fica cansativo. Achei isso bem importante para fazer a gente entrar na história, entender o personagem e acreditar no arco que vem em seguida. O primeiro ato é cheio de informações e detalhes para construir e estudar o Dr. Estranho. Toda a construção do primeiro ato cria uma forte base para o restante do filme. Podemos ver como o Dr. Strange é arrogante e um gênio. E como a questão do tempo é importante para a história. O cirurgião vive em função do tempo, e até mesmo tem uma imensa coleção de relógios.
Após toda a cuidadosa construção do personagem, o segundo ato é com Strange perdido, sem rumo. Ele perdeu a sua vida anterior. Não pode mais trabalhar como cirurgião, já que suas mãos não funcionam como antes. Ele sai em busca de uma cura imediata e acaba descobrindo um novo “universo”.
Ele não vê cura na medicina tradicional, então vai ao Kamar-Taj. O local não é apenas um centro de cura, como ele descobre rapidamente, mas sim um local que treina pessoas pra lutar contra forças ocultas que querem destruir nossa realidade.
A Anciã (Tilda Swinton, ótima) apresenta a ele e ao público os vários universos. Na primeira vez que o protagonista enxerga o multiuniverso, nós fazemos uma viagem por várias dimensões. E aí o filme nos brinda com cenas bem experimentais e prazerosas de assistir.
O tema já dá ideia de como o filme se faz valer de efeitos especiais. E o tema também dá a ideia de que eles são necessários e nunca gratuitos. Todo o visual do filme é criativo e inventivo. Ele serve para criar os universos e realidades paralelas. Num momento, Strange está conversando com seu interesse amoroso, a também médica Christine Palmer (Rachel McAdams). Mas ele na verdade está deitado numa maca e quem conversa com ela é seu espírito.
E vale frisar sobre o elenco. Cumberbatch está perfeito no papel. Nem toda a arrogância do Dr. Estranho impede o ator de nos brindar com um herói super carismático. A escolha de Tilda foi inusitada, mas totalmente acertada. Nos quadrinhos, seu personagem é um homem. A atriz está maravilhosa e brilha em cada cena que aparece. Rachel McAdams apareceu pouco, mas consegue “marcar presença” em cada cena, geralmente servindo como alívio cômico. Apesar do romance não ser aprofundado, dá para sentir o carinho que ela sente pelo protagonista e a boa química entre os dois. Mads Mikkelsen também está ótimo como o vilão do filme.
Doutor Estranho é um filme maduro e que acerta em suas pretensões. Os alívios cômicos também funcionam. Com toques diferentes dos filmes anteriores da Marvel, Doutor Estranho mostra um pouco de um novo caminho que o estúdio pode trilhar, fazendo escolhas mais experimentais e arriscadas, sem deixar a sua essência de lado. As cenas super alucinógenas são hipnotizantes, com muitos toques psicodélicos no plano astral. E a clássica pontinha de Stan Lee é sensacional.
Doutor Estranho pode não ser o melhor da Marvel, mas é extremamente competente e tem poder para mostrar que o estúdio consegue gerar interesse e fazer sucesso até mesmo com os personagens menos conhecidos. Ah, e esse vale assistir em 3D! Ou em IMAX, que foi como assistimos (e recomendamos). O filme tem duas cenas pós-créditos.