Crítica

[Crítica] M3GAN 2.0 (2025)

O terror M3GAN, lançado em 2022, conquistou o público com sua mistura de sustos leves e uma trama absurdamente insana. O filme também tinha a coreografia icônica que viralizou na internet e transformou a história de uma boneca assassina em um fenômeno.

M3GAN 2.0 continua a história de Cady (Violet McGraw), que vive com a tia Gemma (Allison Williams) enquanto as duas tentam reconstruir a vida depois de sobreviver aos instintos “protetores” – e letais – da M3GAN, dois anos atrás. Agora, Gemma virou uma espécie de porta-voz pela regulamentação da inteligência artificial e tenta vender uma nova tecnologia que se integre à humanidade, em vez de substituí-la.

M3GAN 2.0 (2025)

Mas alguém rouba os dados da tecnologia da M3GAN e dá origem a AMELIA (Ivanna Sakhno), uma IA perigosa com um plano mirabolante de acabar com o mundo, Cady e Gemma precisam trazer M3GAN de volta para salvar o planeta.

A ideia de redenção para M3GAN é até interessante, mas parece cedo demais para a franquia ir para esse caminho. Além disso, exige que a protagonista – justamente a carismática M3GAN – fique em segundo plano, enquanto o foco se volta para a nova ameaça, AMELIA. Ivanna Sakhno entrega uma performance poderosa como essa IA mais avançada e mortal, com todos os trejeitos de uma androide, mas chega um momento em que a gente se pergunta: de quem é esse filme, afinal? O maior problema de M3GAN 2.0 é justamente a ausência de… M3GAN.

M3GAN 2.0 (2025)

O roteirista e diretor Gerard Johnstone entregou uma continuação boba e engraçada, seguindo o estilo do filme original – mas com cenas de ação apagadas e uma trama tão pouco inspirada, que não têm o mesmo frescor ou diversão do primeiro. Os diálogos soam como se tivessem sido escritos por uma IA: são engessados e artificiais. M3GAN canta e dança de novo. O filme ainda tem momentos engraçados, mas tudo parece jogado ali só por obrigação, sem o mesmo impacto ou surpresa.

A bagunça cresce com a inclusão de várias subtramas, que apenas incha o filme, sem substância e sem foco. São subtramas demais e focos dispersos, e só alguns realmente funcionam. Violet McGraw e Allison Williams estão bem em seus papéis, ainda que Williams tenha que recitar algumas falas no mínimo constrangedoras. A dobradinha Amie Donald/Jenna Davis como M3GAN continua impecável e elas têm alguns dos melhores momentos do filme.

M3GAN 2.0 (2025)

Enquanto M3GAN é o camp calculado, AMELIA é a frieza pura. Sua estética é mais minimalista, seus movimentos são secos e sua fala reduzida ao essencial. As duas funcionam como contrapontos. Mas o filme segue por um caminho inesperado e diminui o charme que fez o original conquistar tanta gente. Em vez disso, aposta em diálogos excessivamente roteirizados entre os personagens humanos e uma trama enrolada que não fica muito claro que mensagem quer passar.

M3GAN 2.0 troca a sátira afiada e o terror deliciosamente camp do original por uma história mais voltada para ação e espetáculo blockbuster. A mudança de tom pode agradar quem está em busca de explosões, lutas coreografadas, cenários grandiosos e aquele show de ficção científica… mas se afasta demais do primeiro filme.

M3GAN 2.0 (2025)

Dá pra sentir a limitação da classificação etária que o filme recebeu nos Estados Unidos, de 13 anos de idade. As mortes são suavizadas, a violência é sugerida nas sombras, e fica a sensação de que o filme poderia ser muito mais divertido se tivesse mais sangue, humor mais ácido e uma pegada mais ousada.

O filme até toca em temas mais densos, como ética da IA, tecnologia fora de controle e a tendência humana de transformar inovação em arma, mas tudo isso fica em segundo plano, ofuscado por cenas de ação desajeitadas e um roteiro cheio de excessos.

M3GAN 2.0 (2025)

M3GAN 2.0 tem momentos divertidos, toques de camp, nada de sustos, muita ação e várias ideias mal desenvolvidas. Mas o pior defeito com certeza é aproveitar mal a sua estrela principal. O filme não se leva a sério, o que ajuda. No fim das contas, fica entre o “poderia ser pior” e o “poderia ser bem melhor”. Não é tão inteligente nem tão afiado quanto o original, mas não chega a ser um desastre completo.