[Crítica] Elio (2025)
Elio é mais um entre vários filmes da Pixar sobre protagonistas que descobrem quem realmente são ao enfrentarem obstáculos em ambientes desconhecidos. A trama é uma história fofa sobre autoconhecimento e aceitação. Dirigido por Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molina, Elio tem roteiro de Julia Cho, Mark Hammer e Mike Jones.
O personagem-título é Elio Solís, um garoto americano de 11 anos, órfão e solitário, fascinado pelo espaço. Ele criou seu próprio rádio amador para tentar se comunicar com seres de outros planetas. Após a morte de seus pais, Elio agora vive com sua tia Olga. Funcionária de um programa espacial das forças armadas dos EUA, Olga está lutando para encontrar seu lugar como mãe. Enquanto os dois se tornam cada vez mais distantes, Elio fica cada vez mais fascinado com a ideia de ser abduzido por alienígenas. Talvez alguém no cosmos finalmente o aceite.

Numa noite, Elio tem seu desejo atendido. Por circunstâncias acidentais, ele enviou uma mensagem que levou essas entidades do espaço sideral a acreditarem que ele é o líder da Terra. Depois de ser abduzido, Elio passa a fazer parte do Communiverso, que abriga alienígenas de toda a existência. A sua euforia por ver seus sonhos se tornando realidade dura pouco, pois o alienígena Lord Grigon começa um plano de destruir o Communiverso.
Os diretores Domee Shi, Madeline Sharafian e Adrian Molina conseguem criar situações cruas e sinceras que retratam como Elio e sua tia Olga pessoas estão basicamente vivendo em planetas diferentes. No entanto, com mais frequência do que esses momentos profundos e reflexivos, o excesso de informações e conflitos atropelam a narrativa e fazem o filme começar sem muito ritmo. Mas nada grave.

Quando os alienígenas abduzem Elio, o filme encontra um ritmo mais divertido e bem equilibrado. As sensibilidades visuais também ficam mais vívidas e divertidas quando a história vai para o espaço; cores vibrantes e alienígenas estilizados preenchem a telona. Há ainda tendências visuais superteatrais nas sequências espaciais. O design dos alienígenas é incrivelmente inventivo, remetendo a criaturas marinhas, formações rochosas e outras fontes inusitadas.
Elio é uma jornada intensa de inseguranças, coragem diante do bullying e amizade sincera. A conexão entre Elio e Glordon surge naturalmente: ambos se sentem deslocados em suas famílias e desajustados em seus mundos. A amizade que floresce entre Elio e Glordon se torna o alicerce emocional do filme.

Filmes de animação comumente giram em torno de pais que não sabem como criar seus filhos. Olga representa uma ruptura bem-vinda com esse padrão, pois mostra como nem toda mulher automaticamente vira a “mãe do ano” só porque colocaram uma criança em sua responsabilidade. Mães de todos os tipos também são humanas, e Elio consegue reforçar isso em diversos momentos com delicadeza.
Uma das cenas mais profundas sobre essa relação foi quando Elio conta, emburado, ao amigo que sua tia na verdade queria ser astronauta. O amigo escuta isso e responde algo como: “Ela queria e desistiu para ficar com você? Uau! Ela deve te amar muito!”.
Mesmo assim, Elio é um emaranhado de ideias e linhas narrativas – algumas delas ameaçam sufocar a história principal, a superação do sentimento de não pertencimento. Os temas ligados ao luto são pouco explorados. E, apesar de a relação entre Elio e Olga ser complexa e interessante, o filme acaba tratando-a de forma apressada. Há, sim, paralelos sensíveis sobre a dificuldade de ser pai ou mãe – tanto com Olga quanto com o vilão Grigon e seu alegre filho Glordon -, mas Elio não tem tempo suficiente para aprofundar todas essas ideias.

Elio recria uma fórmula antiga da Pixar: alguém sai de casa tentando se encaixar em outro lugar e aprende que o mais importante é aceitar quem se é, onde quer que se esteja. As dublagens brasileiras estão ótimas e o filme tem ótimos e emocionantes momentos, ainda que não seja uma obra-prima da animação. À medida que Elio se afasta da Terra, ele começa a entender que seus sofrimentos não são únicos. Para quem passou por dores pessoais ou tragédias, é comum sentir que ninguém mais entende, que aquela dor é só sua. Os detalhes da situação dele ou sua podem ser únicos, mas os sentimentos são universais. A pergunta que o filme repete (“Estamos sozinhos?”) é refletiva e respondida tanto de forma literal quanto metafórica.

O filme mostra que a tristeza pode coexistir com o encantamento – e que a cura pode começar nos lugares mais improváveis, até mesmo entre alienígenas, vermes e gosmas falantes. Elio pode até ter ideias demais ao mesmo tempo, mas entrega no fim das contas uma homenagem delicada e tocante aos que se sentem deslocados.
Elio diverte e é, no fundo, um filme sobre família – e sobre conexões inesperadas que podem surgir nos momentos mais improváveis. Íntimo, doce e surpreendentemente comovente, a animação traz um rico visual cósmico que merece ser visto na tela grande. É uma aventura cósmica emocionante sobre como aquilo que nos torna diferentes é, justamente, o que nos conecta.
