[Crítica] Estômago 2 – O Poderoso Chef (2024)
Assisti Estômago (2007) pouco antes de assistir à continuação, que estreia 17 anos depois. O filme de 2004 é muito original, divertido e autêntico, com um protagonista carismático. Por isso, era natural ir assistir à continuação com a expectativa alta para ver mais um ótimo filme. Infelizmente não foi o caso, e é impossível não comparar os dois. O orçamento maior do segundo filme não se traduziu em um filme de maior qualidade, muito pelo contrário.
Na continuação, acompanhamos novamente Raimundo Nonato (João Miguel), que continua na prisão. Agora, ele é o principal chefe de cozinha do local, com um status elevado não apenas entre os detentos como também com o diretor do presídio. Etcétera (Paulo Miklos) aparece novamente no filme. Mas a principal adição da continuação é Dom Caroglio (Nicola Siri), que podemos dizer que é o protagonista de Estômago 2.
Nonato vira o mediador de um possível confronto entre o grupo de detentos brasileiros, liderado por Etecetera, e o grupo de Dom Caroglio, chefão da máfia italiana. A partir daí, o filme foca quase que inteiramente em Dom Caroglio. A história de amor entre ele e Valentina (Violante Plácido) tenta emular filmes de máfia hollywoodianos e, obviamente, afasta a brasilidade que era tão característica do primeiro filme.
As duas linhas temporais durante todo o filme, que foi um grande acerto do primeiro longa, não funciona aqui. Pelo contrário, atrapalha a fluidez da obra. No filme de 2007, as linhas temporais de passado e presente nos mantém curiosos sobre o que aconteceu para levar Raimundo Nonato até a prisão. No filme de 2024, parece um recurso preguiçoso, uma maneira de repetir a fórmula de sucesso do primeiro filme, mas acaba soando forçado.
Estômago 2 – O Poderoso Chef é um filme esquecível e que tem quase nada a ver com o original. O filme não tem muitas boas sacadas e os diálogos são rasos e por vezes constrangedores. Tenta recriar o primeiro, mas se perde e acaba quase como uma paródia. Nonato, que carregava todo o primeiro filme, é totalmente escanteado agora. Ele vira um figurante da história, ou apenas um narrador; o personagem mal consegue ter espaço no longa.
As atuações dos personagens principais são boas. Outro ponto positivo é o som do filme, que realmente teve uma grande evolução entre as duas obras; o aumento do orçamento certamente foi bem justificado aqui. Também tem boa fotografia em diversos momentos. Mas Estômago 2 – O Poderoso Chef é, infelizmente, um filme anticlímax, sem força e sem tempero. Nem parece ter sido dirigido por Marcos Jorge, que fez um primeiro filme tão brilhante e agora parece perdido sobre o lugar que deseja levar o filme. Pode ser um filme ok, mas não é uma boa sequência.
Estômago 2 – O Poderoso Chef tem um início interessante e que parece que vai engatar. Tenta usar metáforas sobre a cadeia alimentar. Mas, no geral, é um filme sem inspiração e esquecível. Confuso em seu conceito, acaba virando um pastiche de si mesmo. Perdeu a essência do primeiro e tentou se encaixar em um molde mais hollywoodiano, e talvez a sua perda de força e originalidade venha daí.