Crítica

[Crítica] Utøya – 22 de Julho (2018)

Utøya – 22 de Julho, de Erik Poppe, concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas não ganhou nenhum prêmio no evento.




O filme relembra ataque na Noruega realizado por um homem de extrema direita e contra o Partido dos Trabalhadores do país. O ataque terminou com a morte de 77 pessoas, 97 feridos e durou 72 minutos. Esse tempo é quase a duração do filme. O filme tem pouco mais de 90 minutos; o ataque feito pelo assassino Anders Behring Breivik durou 72 minutos. Ou seja, o filme tenta retratar ficcionalmente cada minuto do ataque, transmitindo, minuto a minuto, o pânico dos adolescentes que estavam na ilha. São 72 minutos utilizados para recriar o ambiente o mais real possível, com uma câmera na mão, logo depois de uma introdução de alguns minutos aos personagens.

No longa, nós acompanhamos integralmente Kaja e o seu olhar na história. Seguimos ela por toda a ilha o tempo inteiro e muitas vezes conseguimos visualizar apenas o mesmo que ela. Kaja é uma das adolescentes que tenta a todo tempo sobreviver, além de tentar encontrar sua irmã mais nova Emilie.

Andrea Berntzen, que interpreta Kaja, é o ponto alto do filme. Como disse, quase todo o longa acompanha a personagem e, quando não está nos mostrando um pouco da sua visão, está focando em seu rosto e suas expressões. A câmera é quase como uma pessoa que está ao lado de Raja. A câmera segue Raja, mas também olha de um lado para o outro, se abaixar ao ouvir tiros, corre descontroladamente, tudo para transmitir o máximo de tensão a quem assiste. Essa escolha do filme também faz com que a gente nãao tenha nenhuma informação sobre o que está acontecendo. Sabemos tanto quanto os personagens. Não temos informações sobre o que está acontecendo, vemos os personagens entrando em contato com a polícia, que demora de forma absurda para chegar ao local, ouvimos tiros de longe, vemos pessoas correndo de um lado pro outro… Todo esse cenário também acaba acrescentando uma dose de sadismo ao filme.




Por ter se concentrado apenas em Raja e não ampliar a visão do longa mostrando outros personagens – ou até o assassino -, a protagonista precisa estar sempre se movimentando. E, para o filme não perder o ritmo, algumas das vezes que ela decide sair correndo soam artificais (afinal ninguém gostaria de assistir a mais de 90 minutos de alguém deitada e escondida, esperando o terror acabar).

É um filme forte e desconfortável de assistir. Ao mesmo tempo que causa desconforto ao recriar tão bem o horror daquele dia em que vários adolescentes estavam em um acampamento de verão na ilha Utøya, na Noruega, também passa um sentimento de sadismo e voyeurismo para quem está assistindo a encenação minuto a minuto de alguém que estava no local tentando permanecer viva.

Utøya – 22 de Julho fez parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.



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