[Crítica] Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016)
Animais Fantásticos e Onde Habitam não é uma “continuação” caça-níquel de Harry Potter, que se aproveita da saudade e nostalgia dos fãs da saga e apenas isso. O filme apresenta algo novo, bem diferente do que já foi retratado nos filmes anteriores baseados nos livros de J. K. Rowling.
A primeira cena dá uma boa contextualizada na franquia. São mostradas várias capas de jornais com Grindelwald (Johnny Depp), bruxo obcecado com as Relíquias da Morte e por uma “nova ordem mundial”. Depois somos apresentados a New Scamander (Eddie Redmayne), magizoologista que vai para Nova York, nos anos 1920, com sua mala, que tem vários animais mágicos dentro. Num encontro bem casual com Jacob Kowalski (Dan Fogler) ele acaba perdendo alguns de seus animais. Ele tem a missão de reencontrar estes animais. Parece simples e podia sair como um filme de aventura simples e sem sal. Mas não é assim. Ainda bem.
O visual do filme é impressionante. O filme foi visto em IMAX, e a tecnologia foi bem usada. O longa mistura cenas bem claras, com muita luz, com outras mais escuras e sombrias. Um momento que esses contrastes ficam bem claros é quando Jacob está passeando pela mala de Scamander, por floresta bem iluminadas, com animais bem coloridos, até encontrar o sombrio Obscurus.
Animais Fantásticos também toca em preconceitos e discursos de ódio. Mas não muito. O tema do preconceito se foca mais no preconceito dos no-maj, nomenclatura norte-americana para “trouxas”, contra a comunidade bruxa. A busca de Grindelwald pela raça pura é apenas apresentada, mas não aprofundada. Talvez fique para os próximos filmes da franquia.
Eddie Redmayne está ótimo no papel. Ele consegue ter o tom cômico, olhar de deslumbramento e inocência e até uma leve melancolia. Johnny Depp aparece de forma bem breve como Grindelwald. O ator está com a imagem bem desgastada, não dá para negar, e no pouco que aparece já é possível notar todos os seus maneirismos de sempre. E o segundo ele deve aparecer mais… Mas um dos destaques fica por conta de Dan Fogler. Ele é o alívio cômico do filme e extremamente carismático, acho que é impossível não gostar dele. E também não se identificar com ele, no-maj, deslumbrado no meio daquele mundo.
Há ainda Porpentina Goldstein (Katherine Waterston), que é uma boa adição ao filme, Queenie Goldstein (Alison Sudol), divertida irmã mais nova de Porpentina, que lê mentes e tem um semi-romance com Jacob. Do lado mais sombrio, há Mary Lou Barebone (Samantha Morton), a líder abusiva dos caçadores de bruxas, e Ezra Miller como o freaky Credence Barebone, filho de Mary Lou. Enquanto Jacob, os animais fantásticos e Queenie trazem o lado mais iluminado e cômico do filme, o lado dos Barebones é sombrio, com Credence parece um vilão de quadrinhos sendo desenvolvido. Numa área mais cinza está Colin Farrell como o misterioso chefe de segurança da associação americana de bruxos.
Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme que consegue se encaixar no universo criado por J. K. Rowling. Ele faz referências na medida certa àquele mundo que já conhecemos e também abre novas portas. É um ótimo blockbuster, não perfeito, mas que consegue usar lindamente a fórmula esperada.
O filme promete agradar fãs de Harry Potter mas também pode ser visto sem problemas por quem não conhece a saga, sendo um bom início para novos espectadores deste universo. O filme é encantador, despretensioso e cativante.