[Crítica – Mostra SP 2025] Babystar (2025)
Em Babystar, primeiro longa de ficção de Joscha Bongard, o foco está na filha única de uma família de influenciadores cuja fachada de perfeição doméstica começa a desmoronar quando ela reage mal à notícia de que ganhará um novo irmão. Os pais, Stella (Bea Brocks) e Chris (Liliom Lewald), beirando os 40 anos, lucram com sua própria imagem desde o tempo em que eram um casal sem filhos, como mostram vídeos antigos disponíveis no site da família. Cada etapa da vida de Luca (Maja Bons), desde a concepção até os atuais 16 anos, foi compartilhada com o público.
O filme começa com a visita de três crianças que ganharam um concurso para conhecer seus ídolos. Enquanto os Sommer encenam naturalidade e pregam mensagens inspiradoras, os visitantes demonstram ter aprendido outra lição: perguntam sobre peso, marcas de roupa, dinheiro, cirurgias plásticas. A mãe responde com leveza: “Pessoas verdadeiramente belas não precisam de correções.”

Com o número de seguidores em queda, os pais veem na chegada de um novo bebê a chance de revitalizar o interesse do público. A notícia abala Luca, que reage com rebeldia e provoca uma ruptura definitiva na dinâmica familiar.
O medo de “deixar de ser especial”, após descobrir que ganhará um irmão, leva Luca a uma crise existencial que move o segundo ato. Sua rebeldia inclui fugir de casa para um hotel, onde consegue um quarto de luxo ao chantagear o gerente, além de se aproximar de um recepcionista (Maximilian Mundt) e criar um “experimento familiar fantástico”, no qual entrevista fãs interessados em adotá-la. Enquanto isso, os pais fazem de tudo para esconder o conflito do público.

A câmera nos faz sentir próximos de Luca, mas nunca o suficiente — uma escolha estética que ecoa a própria lógica da exposição online. Os enquadramentos são frios, observadores, muitas vezes captados de cantos de parede ou ângulos altos, como se fôssemos cúmplices da vigilância que oprime Luca.
Em vez de inventar redes sociais fictícias, Babystar apenas oculta os nomes reais de plataformas como TikTok ou Instagram. Assisti Babystar durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em uma sessão especial que contou com a presença do diretor Joscha Bongard. Ao final, ele conversou com o público e debateu sobre o filme, explicando algumas de suas escolhas visuais mais marcantes. Bongard contou que decidiu borrar todas as marcas e logotipos — de redes sociais como TikTok, Instagram e YouTube até nomes de roupas e cosméticos — porque estamos tão acostumados a vê-los que, se aparecessem normalmente, passariam despercebidos. Ao contrário, quando borrados, esses símbolos chamam atenção e revelam como nossa rotina é cercada, quase sufocada, por essas presenças corporativas constantes.

Há algo de naturalmente fascinante nesse tipo de vida exibicionista, e o filme explora isso com esperteza por meio de uma estética elegante e quase publicitária. Apesar da boa execução e das atuações sólidas, o drama satírico alemão não consegue escapar de seu próprio dilema: quer criticar vidas transformadas em produto sem zombar delas, mas também não desperta muita empatia ou envolvimento com personagens que parecem não ter nada além da superfície reluzente. O resultado é um trabalho competente e atraente, embora limitado em profundidade.
Ao tentar observar o fenômeno sem mergulhar nele, Babystar permanece na superfície, sem ousar satirizar de fato nem aprofundar a análise (o que acaba por também reproduzir parte da superfície que critica). A protagonista chega a ter uma confidente (Joy Ewulu), mas a natureza dessa relação é ambígua. E quando Luca tenta, no final, romper o ciclo para poupar o futuro irmão de uma infância vigiada, o impacto é mínimo; o filme é contido demais para tornar palpável o dano causado pelos pais. É bem feito e levanta questões para debate, mas poderia fazer isso utilizando toda potência que o tema possui.
Babystar faz parte da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro. O filme foi exibido nos festivais de Toronto e Varsóvia.

