Crítica

[Crítica – Mostra SP 2025] After This Death (2025)

Dirigido pelo argentino Lucio Castro, After This Death acompanha a trajetória de Elliott (Lee Pace), músico de uma banda de rock alternativo, e de Isabel (Mía Maestro), uma dubladora argentina cuja voz desperta algo impossível de controlar.




Morando em uma mansão cercada por floresta ao lado do marido Ted (Rupert Friend), Isabel conhece Elliott (Lee Pace) durante uma caminhada por um bosque e tem com ele um breve encontro de flerte. Mais tarde, ao acompanhar uma amiga escritora (Gwendoline Christie) em um show, Isabel o reencontra: ele é o vocalista da banda Likeliness Increases, um trio cujos fãs o idolatram quase obsessivamente. Nessa mesma noite, Isabel — grávida e casada — inicia um caso com o músico.

O caso entre eles é intenso e breve — interrompido bruscamente por uma tragédia devastadora: o parto de um natimorto. No luto, um segundo evento misterioso lança a história no terreno do sobrenatural: há algo de indefinido na conexão entre Isabel e Elliott, e o desaparecimento dele parece desafiar a lógica. Quando ele desaparece sem deixar vestígios, leva junto todas as pistas sobre o suposto 11º álbum que gravava ao lado do reservado irmão Ronnie (Philip Ettinger).

A partir daí, a vida de Isabel se desestabiliza, e acontecimentos estranhos começam a cercá-la. Um dos momentos mais surreais é a chegada de uma mensagem de voz entregue por um performer vestido de Pierrot dançante, cena que beira o cômico, mas não encontra o tom certo. Após o desaparecimento do cantor, o enredo assume tons sombrios: mensagens cifradas, luto e a perseguição de fãs que culpam Isabel pelo sumiço do ídolo e pelo atraso do 11º álbum da banda. O grupo de seguidores, que se autodenomina TPYS (The People You See), começa a atacá-la nas redes e fora delas.




Por mais elegante que seja, o mistério é morno e não desperta o fascínio que pretende. Apesar de toda essa intensidade da história — e de um título que sugere peso existencial —, After This Death parece não ter realmente sobre o que falar. Ou, ao menos, nada que mantenha o interesse por muito tempo. 

Os atores mantêm o filme tecnicamente sólido; os dois têm boa química e o desejo entre eles é palpável. A fotografia é atmosférica, e a trilha de Roberto Lombardo e Yegang Yoo alterna entre sintetizadores hipnóticos, flautas melancólicas e pianos etéreos. Ainda assim, os eventos se acumulam sem criar um real peso narrativo ou emocional. Lucio Castro insinua temas interessantes, mas nunca os desenvolve.

O longa transita entre gêneros: não chega a ser um thriller tradicional, tampouco um drama puro. Flerta com o mistério e o suspense psicológico, evocando ecos de Lynch e Hitchcock (o segundo, inclusive, citado em diálogo), mas sem se comprometer totalmente com nenhuma dessas referências. É um filme que levanta perguntas, e não respostas, e o enigma central nunca se resolve de forma explícita.




Após um início envolvente, que parecia criar um clima de tensão e mistério que levaria a algum lugar, a narrativa perde ritmo logo após o desaparecimento de Elliott. A partir daí, o filme entra em um limbo narrativo, acumulando incidentes que parecem não levar a lugar algum. Há boas ideias em jogo — a crítica à idolatria, o retrato do desejo feminino, fandom tóxico, a fusão entre arte e obsessão —, mas todas ficam pela metade. 

After This Death faz parte da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro. Exibido no Festival de Berlim, Tribeca e no BAFICI.