Crítica

[Crítica] Prédio Vazio (2025)

Há algo de profundamente brasileiro na forma como Rodrigo Aragão transforma um cenário turístico em palco de horror em Prédio Vazio. Aragão transforma ruínas turísticas em labirintos de horror com alma, sangue e brasilidade no longa. Fugindo dos cenários e vozes padronizadas do cinema brasileiro mais comercial, em um cinema nacional ainda tão concentrado nos sotaques e paisagens do eixo Rio-São Paulo, Prédio Vazio surge como um sopro de ar fresco vindo do litoral capixaba.

No último dia de Carnaval em Guarapari, no Espírito Santo, Luna (interpretada por Lorena Corrêa) começa a notar sinais estranhos envolvendo sua mãe (Rejane Arruda). Há algo no ar que indica que ela corre perigo — e de fato, coisas perturbadoras vêm acontecendo com ela. Entre episódios de violência doméstica e o trauma de presenciar uma senhora saltando do alto do prédio, a atmosfera ao redor da mãe parece carregada de negatividade.

Prédio Vazio (2025)

Guarapari é um dos destinos mais procurados durante o Carnaval, conhecida por suas praias movimentadas, festas e turistas por todos os lados. Mas, quando a folia acaba, a cidade muda de rosto: as ruas silenciam, os prédios de temporada esvaziam e uma atmosfera estranhamente deserta toma conta do litoral.

É nesse cenário de quietude pós-festa que Luna chega, acompanhada do namorado Fábio (Caio Macedo), decidida a descobrir o que está acontecendo com sua mãe. O que deveria ser um reencontro tranquilo se transforma rapidamente em uma jornada sufocante e cercada de mistérios — como se algo invisível pairasse sobre a cidade, tornando cada passo mais inquietante.

Desde os primeiros minutos, Prédio Vazio se destaca por colocar as mulheres no centro da narrativa. Apesar de Fábio ter papel relevante — e funcionar em certos momentos como um leve respiro cômico — a trama gira em torno de Dora, Luna e Marina. São mães, filhas, mulheres dispostas a tudo para proteger quem amam. Essa devoção, no entanto, vem acompanhada tanto de gestos de ternura quanto de explosões de fúria, resultando em cenas intensas e ensanguentadas.

Prédio Vazio (2025)

Rodrigo Aragão, referência consolidada do terror nacional, construiu sua trajetória com obras marcadas por uma estética autoral que mistura efeitos práticos, gore feito à mão e fortes influências do folclore brasileiro. Em Prédio Vazio, ele une seu amor pelo horror oitentista com críticas sociais e uma identidade cultural intensa, temperando tudo com humor sombrio e uma generosa dose de sangue.

Outro ponto alto da produção é o trabalho artesanal nos efeitos especiais. Logo de cara, chama atenção a fachada do Edifício Magdalena — uma maquete meticulosamente construída especialmente para o filme. O longa é recheado de cenas grotescas: rostos se desfigurando, marteladas brutais, aparições sobrenaturais variadas, tudo ambientado em cenários criados com cuidado e textura real. Mesmo quando o orçamento modesto se faz notar em algum detalhe, o universo proposto por Aragão nunca se desfaz. O filme tem boas imagens de terror.

Prédio Vazio (2025)

O diretor não busca reinventar o terror, mas sim aplicar fórmulas já conhecidas com firmeza, estilo e identidade brasileira. O clima denso e inquietante e a maneira como os espíritos atormentados são retratados no Edifício Magdalena são, sem dúvida, os destaques da produção. Os efeitos especiais abraçam o exagero sem pudores, trazendo um espírito de terror B e vestindo totalmente essa camisa, sem pudores.

Ao fundo de tudo, permanece uma pergunta em Prédio Vazio: até onde uma mãe é capaz de ir por um filho? As personagens de Rejane Arruda e Gilda Nomacce refletem essa entrega, mesmo que em lados opostos da moral. Prédio Vazio não finge ser outra coisa: é um terror artesanal, feito com dedicação e uma crença sincera na força do cinema popular brasileiro que dá para sentir através da tela.

Nem tudo em Prédio Vazio funciona com a mesma força. A montagem, por exemplo, demora a engrenar — só encontra um ritmo mais coeso no terço final, quando o filme assume de vez seu lado mais onírico e surreal. No elenco, embora os protagonistas funcionem bem em suas individualidades, a dinâmica do casal carece de química, o que enfraquece algumas interações.

Prédio Vazio (2025)

O ponto mais contido de Prédio Vazio está no roteiro. A narrativa principal cumpre seu papel, mas segue por caminhos bastante previsíveis. Faltam desvios inesperados, reviravoltas marcantes ou escolhas narrativas mais ousadas.

Mas, pelo menos, a cena final serviu um bom plot twist. O filme acerta ao construir atmosfera, ao estabelecer ritmo e ao provocar sensações – mas mantém a história em uma zona de conforto, como se evitasse se complicar ou correr riscos estruturais em seu roteiro. Além disso, em muitos momentos o texto é fraco.

Prédio Vazio também tropeça ao tentar abraçar demais: estilos, tons, caminhos narrativos. Algumas atuações secundárias flertam com o caricato de forma não intencional. O filme é cru, barulhento, desajeitado, mas pulsante. É nesse atrito entre o imperfeito e o intenso que o filme encontra sua alma.

Prédio Vazio

Mas o saldo de Prédio Vazio é positivo. A direção mostra firmeza, o cuidado estético é visível em cada plano e há uma atenção aos detalhes que torna a experiência envolvente e boas imagens aterrorizantes. Para quem se interessa por thrillers urbanos com toques de horror e uma ambientação regional, Prédio Vazio pode ser um prato cheio.

Fugindo dos cenários e vozes padronizadas do cinema brasileiro mais comercial, Prédio Vazio traz o peso e a beleza de um terror contado com sotaque do Espírito Santo, cheio de identidade regional. É um filme de terror do Brasil e no Brasil.