[Crítica] Câncer com Ascendente em Virgem (2025)
É comum que filmes coloquem o diagnóstico de câncer como ponto central da trama. Normalmente, o diagnóstico vira a chave para que a personagem diagnosticada passe a ver a vida com outros olhos e que comece a desfrutar a brevidade da vida. Mas não é isso que acontece em Câncer com Ascendente em Virgem.
Não é que o tema do câncer não tenha um peso narrativo aqui. Ele tem. Mas ele não é a base de tudo. Em vez de ser um filme apenas sobre a descoberta de um câncer de mama, o longa se baseia mais na jornada de Clara (Suzana Pires) e sua rede de apoio. Os sentimentos e medos que permeiam a doença estão ali, o câncer está por todo o roteiro, mas a história é muito mais sobre o que acontece ao redor, já que a vida não para. O foco nunca é o sofrimento e o diagnóstico não representa o fim.
O filme é inspirado no blog Estou com câncer, e daí?, da produtora Clélia Bessa, e a narração em voz off faz ponte com isso. Ainda que possa soar expositivo em alguns momentos, o recurso funciona. Todos os aspectos da vida da protagonista são abordados de maneira sensível, contrariando o que podemos pensar em um primeiro momento com a estética meio “Sessão da Tarde”. Vemos sua relação com sua filha, suas inseguranças, sua relação com a mãe, inquietações com seu corpo e aparência, sua vida amorosa, seu trabalho, a relação com o ex-marido… Apesar de tratar de temas bem profundos e duros, tudo é abordado de forma leve e positiva.
Apesar de não nos aprofundarmos nas histórias das personagens coadjuvantes, todas elas que compõem a rede de apoio de Clara são importantes e bem aproveitadas pelo roteiro. Acompanhamos todas elas fortalecerem sua relação com Clara, seja sua filha Alice (Nathália Costa), sua mãe mística Leda (Marieta Severo) ou suas amigas Paula (Carla Cristina Cardoso) e Dircinha (Fabiana Karla). Todas as personagens, com personalidades diferentes e lutas distintas, acrescentam mais camadas e ternura à trama.

A personagem de Marieta Severo é um dos destaques do filme; idosa, Leda vive com intensidade, tenta se manter sempre atualizada, tem diferentes crenças e a atriz a interpreta com graça. Mas todas as personagens conseguem brilhar. Suzana Pires carrega o peso e a leveza do filme do início ao fim. Fabiana Karla aparece em um papel com carga dramática que não costumamos vincular à atriz. Coletivamente, essa rede de apoio da personagem principal transborda a tela e todas as atrizes brilham em sintonia.
Câncer com Ascendente em Virgem celebra a vida e as conexões, sem muito melodrama. Consegue retratar uma personagem forte, que também tem espaço para ser frágil e uma rede de apoio para acolhê-la em sua fragilidade. Ainda que emocione, o filme não tem cenas feitas apenas para chocar ou provocar lágrimas de forma gratuita. Naturalmente, Clara sente o impacto ao receber o diagnóstico e precisa aprender a lidar com isso. Mas em vez do filme focar no fim da vida, ele se centra no recomeço e na coragem, não só da protagonista como de todo o seu entorno.
Câncer com Ascendente em Virgem traz um olhar carinhoso sobre um tema tão difícil e amargo. É fácil e agradável de assistir e consegue estabelecer um diálogo eficaz com o grande público, especialmente com mulheres. Ancorada em sua rede de apoio, Clara vai entendendo como viver e aproveitar a vida apesar do câncer de mama, sem nunca diminuir a doença. O filme vai construindo a sua narrativa de forma que é difícil não se emocionar em alguns momentos. É um filme honesto e afetuoso, que consegue dosar bem elementos de esperança e de realismo; dá para sentir como ele foi feito com carinho. A mensagem que fica é que tão importante quanto se cuidar, é cuidar uma das outras.
