Crítica

[Crítica] Vitória (2025)

Vitória, protagonizado por Fernanda Montenegro, conta a história real de uma carioca que filmou, da janela do seu apartamento, uma quadrilha do Rio de Janeiro. A personagem título, até então conhecida como Nina no filme, mora sozinha e sofre cada vez mais com a violência ao seu redor. Ela mora na boca do tráfico, ouve tiros do lado de fora constantemente e, em um momento, uma bala perdida entra em seu apartamento. Ela não aceita morar assim. Por isso, após ser desacreditada pelos policiais, ela decide registrar os traficantes a partir de sua janela e descobre a ligação que alguns dos policiais têm com os traficantes. Os vídeos capturados por ela acaba chamando a atenção do jornalista Fábio Gusmão (Alan Rocha).

A história real de Joana da Paz foi revelada pelo jornal Extra em 2005. Sua identidade real foi revelada apenas em 2023, após sua morte, aos 97 anos. Joana nasceu em Alagoas, se mudou para o Rio de Janeiro na juventude e trabalhou como empregada e massagista. Sua história começou a mudar quando decidiu processar o estado pela desvalorização de seu imóvel, por causa do tráfico de drogas na região. O policial afirmou que ela estava mentindo sobre o tráfico na região e que eram necessárias provas. Por isso, ela comprou uma câmera e começou a gravar as movimentações. No fim das contas, as investigações foram concluídas prendendo mais de 20 pessoas, incluindo policiais.

Vitória (2025)

Joana da Paz entrou em um programa de proteção a testemunhas e a partir daí passou a ser conhecida por outro nome. Ela foi morar em outro estado e sua nova identidade a acompanhou por décadas. O filme Vitória escolheu esse nome para a personagem como uma das mudanças adotadas para preservar sua segurança. A etnia da personagem também foi alterada, já que Joana era uma mulher negra. Mas, como mencionado, ninguém sabia a aparência de Joana até 2023, quando Fernanda Montenegro já havia sido escalada para o papel. Vitória já estava pronto desde 2024; sua estreia foi adiada em quase um ano para a Sony focar no marketing de Ainda Estou Aqui. Para completar, Vitória era inicialmente dirigido por Breno Silveira, mas ele faleceu em 2022 e o projeto foi passado para Andrucha Waddington.

Vitória é um filme carregado de história prévia, tanto sobre a personagem retratada ou quanto sobre os seus próprios bastidores. Mas o filme também tem seus méritos ao longo de sua duração. Fernanda Montenegro é o maior deles. A atriz é uma força estrondosa a todo momento na tela. Ela consegue deixar todas as cenas impactantes e profundas com sua atuação, que nos mostra uma personagem forte e doce ao mesmo tempo, cheia de nuances do início ao fim. Assim como conseguiu falar tanto em Ainda Estou Aqui, mesmo sem mencionar nenhuma palavra, a atriz consegue transmitir muito naturalmente tudo o que está dentro de sua personagem em Vitória. A personagem sabe desde o início o que quer e não deixa nada a limitar. Ela não para mesmo com limitações de idade, briga pelo que acredita e rebate quem vai contra.

Vitória (2025)

O menino Marcinho (Thawan Lucas) faz uma ótima dupla com a protagonista e os dois juntos entregam algumas das cenas mais doces e ternas do filme. O menino de rua é o único que costuma visitar o seu apartamento e é visto com maus olhos pelos moradores do prédio. A vizinha Bibiana, interpretada por Linn da Quebrada, tem uma participação menor, mas também consegue adicionar cuidado e carinho à história. Linn aparece em poucas cenas, mas consegue marcar. Alan Rocha também consegue transmitir todo o apreço e preocupação que seu personagem tem pela protagonista. Nos três casos, os personagens conseguem uma boa química em tela com Fernanda Montenegro e suas cenas funcionam. Além destes, os demais personagens do filme não são aprofundados.

A reconstrução do Rio de Janeiro de 2005 está boa e consegue nos transportar para a época. A direção de Andrucha Waddington, que substituiu Breno Silva, não erra, mas também não se destaca acima da média. A atmosfera do filme é bem construída e a forma que a câmera é utilizada na narrativa ajuda a criar tensão e um ar de realismo por toda a obra. Como espectadores, temos uma experiência parecida com a protagonista. Somos surpreendidos com suas descobertas e passamos por momentos de tensão ao lado dela. Além de mostrar o que Nina está vendo, o olhar dela, o filme também consegue captar toda sua angústia, seja quando seus olhos ficam cheios de lágrimas ou quando ela tem dificuldade para falar.

Vitória é um filme sobre uma mulher forte e obstinada, que vai contra o sistema e sai em busca de justiça. Fernanda Montenegro é, de longe, o grande trunfo do filme. É difícil não pensar se o longa não perderia muito de sua força se não fosse por sua atuação e se tivesse que se apoiar apenas no roteiro. Em vez de se aprofundar na temática mostrada, Vitória prefere aprofundar no íntimo da personagem título e se segurar na atuação da atriz. É um ótimo filme, com uma história potente e necessária, mas também quadrado e pouco inventivo.