Crítica

[Crítica] Bridget Jones: Louca pelo Garoto (2025)

Após todo o sucesso de O Diário de Bridget Jones, de 2001, as duas continuações do filme não fizeram tanto sucesso. Agora, Bridget Jones: Louca pelo Garoto explora a Bridget (Renée Zellweger) que existe além de Mark Darcy (Colin Firth) e Daniel Cleaver (Hugh Grant), e acerta. O filme é baseado no terceiro livro da série de Helen Fielding, que toma como base as experiências da própria autora sobre luto.

Quando o filme começa, Darcy já está morto há 4 anos. Ele morreu durante uma missão comunitária no Sudão. Bridget está tentando lidar com isso, ao lado de seus dois filhos pequenos. Colin Firth faz breves participações durante o filme, em momentos-chave e emotivos, especialmente relacionados às crianças. As suas aparições sempre são comoventes, e não soam exageradas ou apelativas.

Mabel (Mila Jankovic) não lembra bem de seu pai, pois era muito nova quando ele faleceu, e pergunta a todos os homens que Bridget conhece se eles serão o seu novo pai. Billy (Casper Knopft) tem 10 anos e tem uma tristeza visível, mas não que não expressa com clareza. A cena em que o garoto consegue verbalizar os seus medos e insegurança sobre a perda da memória que tem de seu pai é uma das mais tocantes do filme.

Bridget Jones: Louca pelo Garoto (2025)

Como costuma acontecer na franquia, chega um momento em que todos insistem que o que Bridget precisa é sexo. Então fica a questão no ar: Quando Bridget irá seguir em frente? Após alguma insistência de seus amigos, a personagem mais uma vez abre o seu diário e, com o tempo, consegue alguns pretendentes. Ela tenta usar aplicativos de namoro e volta a trabalhar como produtora de TV.

Apesar da história caminhar, o filme tem sempre um tom nostálgico e reconfortante ao trazer de volta estrelas coadjuvantes e outros personagens de apoio, como Daniel Cleaver (Hugh Grant), Shazzer (Sally Phillips), Jude (Shirley Henderson), Tom (James Callis), os pais de Bridget (Jim Broadbent e Gemma Jones), a melhor amiga de trabalho Miranda (Sarah Solemani) e Emma Thompson, interpretando a ginecologista da protagonista. Ainda que nem todos tenham tanta substância e pareçam estar ali mais como fan service, o resultado fica adorável. Grant faz breves participações, mas sempre traz vitalidade à tela.

Após um momento cômico presa em uma árvore, Bridget encontra seus dois possíveis interesses amorosos, o Sr. Walliker (Chiwetel Ejiofor), professor de ciências de Billy, e Roxster (Leo Woodwall), estudante de bioquímica que trabalha meio período como guarda florestal. Roxster é muito mais jovem que a protagonista, tem 29 anos e aparentemente não vê problemas com a diferença de idade que tem com Bridget, pelo menos inicialmente. Woodwall e Zellweger conseguem ter química nas cenas em que estão juntos; dá para entender o motivo de Bridget ir atrás dele e todo esse enredo é crível. Ainda assim, o personagem não é tão bem explorado e some e volta para a história quando é mais conveniente.

Bridget Jones: Louca pelo Garoto (2025)

Ao longo de toda a história, Sr. Walliker faz aparições na trajetória de Bridget; o personagem é o oposto de Roxster. Ejiofor é outro bom elemento do filme, e adiciona sensibilidade a cada aparição. Os dois “relacionamentos” de Bridget, com Roxster e com o Sr. Walliker, se desenvolvem separadamente. E, ainda que o personagem do Sr. Walliker se mantenha presente constantemente entre cenas, a sua conclusão foi mais apressada.

Mais uma vez, Renée Zellweger está ótima no papel. A forma como ela incorpora Bridget Jones – assim como vez nos três filmes anteriores – dá ainda mais força ao longa. A simbiose entre Zellweger e Bridget segura boa parte do charme do filme. O quarto filme da franquia traz a personagem que já conhecemos: ela está solteira – ou melhor, agora viúva -, fala demais, é desajeitada e tudo aquilo que já sabemos. Mas o trunfo do quarto filme é a profundidade que consegue dar à protagonista, ao explorar a sua dor e a gradual superação dela. Há, ainda, cenas com humor e atitudes obsoletas, mas o carisma de Zellweger interpretando a personagem faz com que isso não seja um grande problema.

Bridget Jones: Louca pelo Garoto (2025)

Bridget Jones: Louca pelo Garoto é um filme muito equilibrado, com boas pitadas de drama e de comédia. Não é tanto um filme focado em mostrar como Bridget amadureceu, e sim como ela é humana. No filme dirigido por Michael Morris, Bridget cresceu, sim, mas ainda tem toda a essência dos filmes anteriores. O filme não traz um roteiro surpreendente, mas tem o tempero certo para mostrar a jornada de redescoberta de Bridget. O roteiro de Fielding, Dan Glazer e Abi Moran consegue acertar no que se propõe a fazer: uma comédia romântica com uma heroína engraçada, precisando se autodescobrir, rodeada de interesses amorosos bonitos e uma trilha sonora empolgante. Com um roteiro simples, e na maioria das vezes previsível, o filme consegue abordar luto, passagem do tempo e maternidade de forma tocante. É um ótimo encerramento para a franquia.

Em Bridget Jones: Louca pelo Garoto, a história é construída e evolui a partir da tristeza, com a personagem principal percebendo que sua vida não acabou e que ela ainda consegue ser feliz. É um filme reconfortante, que mostra que mesmo as maiores perdas não precisam significar o fim de tudo e que sempre há espaço para o recomeço. Ao fim, Bridget percebe que o luto não é linear, mas a vida segue. É um filme para sair da sala de cinema se sentindo abraçada.