[Crítica] O Clube das Mulheres de Negócios (2024)
O Clube das Mulheres de Negócios, novo filme de Anna Muylaert, mostra um mundo fictício em que as mulheres mais poderosas do país assumem os papéis que historicamente foram ocupados por homens. Vemos as mulheres na situação de poder comum aos homens e os homens em situações de desconforto, abuso e inferioridade, que é comum às mulheres. Toda a dinâmica é invertida. A opressão ainda existe, só é praticada contra o outro grupo, mas a essência é a mesma.
O filme nos mostra o fotógrafo Jongo (Luís Miranda) e o repórter recém-formado Candinho (Rafael Vitti), que estão indo ao exclusivo clube das mulheres. A dupla pretende fazer uma entrevista com a diretoria do clube. O clube é composto por mulheres que representam os mais diversos estereótipos de figuras de poder masculinas. A inversão está até mesmo nos figurinos, com os homens utilizando roupas que expõem mais os seus corpos. Candinho, por exemplo, usa um cropped. Garçons vestem shorts curtos.
A premissa do filme me interessou. O tema é interessante e ele poderia ser muito bem explorado e aprofundado. Infelizmente, o filme não consegue se sustentar. Há a inversão de gêneros e só. A obra acaba se tornando uma “piada” que é repetida à exaustão, do início ao fim, apenas reproduzindo o que acontece no mundo real. Por isso, o filme perde, por exemplo, uma boa oportunidade de imaginar possíveis mudanças que poderia acontecer se essa inversão fosse real. É um detalhe, mas que acaba deixando o filme mais raso. O filme é uma boa ideia que precisava de mais trabalho para continuar boa após ser tirada do papel.
Outro grande problema do filme é a necessidade de “explicar a piada”. O final, que é totalmente expositivo, é o maior exemplo disso. Talvez também por isso, o primeiro ato do filme é o que melhor funciona. Como tudo ainda é “novidade” na obra, o filme ainda consegue capturar a nossa curiosidade para entender como aquele mundo funciona, o que está acontecendo e o absurdo das situações, que, como sabemos, são naturalizadas quando praticadas por homens em nosso mundo. Mas algo se perde pelo caminho. Aquela sátira acaba virando algo didático demais, beirando o ingênuo em muito momentos.
A cena em que Yolanda (Grace Gianoukas) abusa de Candinho é bem explícita e escrachada e funciona. Ela consegue passar a mensagem que pretende e serve de denúncia contra o que tantas mulheres sofrem em tantos ambientes, com desconhecidos, familiares, chefes… Mas as críticas sociais sobre assédio sexual, racismo, abuso de poder e machismo parecem logo ser deixadas de lado para o foco do filme virar o perigo da onça. A partir daí, o roteiro fica confuso e fica difícil manter o interesse no filme.
O Clube das Mulheres de Negócios é um filme de boas intenções, mas raso, que poderia ter sido traduzido em um resultado muito melhor se tivesse confiado mais no poder de interpretação do público e brincado mais dentro do universo que criou. A ideia do filme é boa, a execução, não. O início é promissor, mas a ideia se perde no meio do caminho e o final é desnecessariamente expositivo, pois tenta mastigar ainda mais algo que o discurso do filme já havia transmitido diversas vezes.