[Crítica] Tudo O Que Você Podia Ser (2024)
Tudo O Que Você Podia Ser é muito delicado, um carinho em forma de filme. Ele parte de um local cheio de amor e nos permite acompanhar um dia comum na vida de quatro pessoas. Ainda assim, não deixa de mostrar o preconceito que elus vivem no dia a dia, como a rejeição da mãe e a violência verbal dentro de um ônibus, coisas infelizmente ainda muito comuns. Mas o verdadeiro foco do filme está no carinho, amor e amizade.
O filme celebra a diversidade LGBTQIAP+ e nos mostra o último dia de Aisha em Belo Horizonte. Ricardo Alves Jr., diretor do longa, descreve a obra como um manifesto sobre o cuidado, a amizade e o pertencimento, em meio aos desafios sociais enfrentados pela comunidade.

O filme não se limita a Aisha e também nos mostra um pouco da vida de suas melhores amigas, Bramma, Igui e Will. Igui, por exemplo, decide cursar o doutorado na Alemanha. O senso de comunidade que vivem aquelas quatro amigas é palpável e mostra que o conceito de família vai além do tradicional e é formada especialmente por quem escolhemos ter ao nosso lado. É um filme sobre a busca pela felicidade, que pode ser um caminho mais agridoce para uma pessoa LGBTQIAP+.
O roteiro é simples e as atuações de todas as personagens principais conseguem traduzir naturalidade em cada cena. A química do elenco principal é bem forte e deixa cada cena de acolhimento e aceitação ainda mais doce e real, mesmo em cenas mais clichês ou com simbologias mais desgastadas.

Apesar da história simples e singela, a mensagem que o filme passa é impactante e sensível. Como disse antes, a violência está ali presente, seja de familiares ou desconhecidos, mas o carinho e acolhimento daquele grupo consegue se sobrepor às dores que cada uma carrega dentro de si. Todos os temas, como integração, homofobia, HIV e transfobia, são tratados de maneira bem natural, sem didatismo, com um olhar cuidadoso.
O filme mescla elementos de ficção e documentais no roteiro, o que ajuda a deixar cada cena ainda mais natural. Tudo o Que Você Podia Ser é um doce retrato sobre a comunidade negra travesti, trans e não-binária e celebra a diversidade com afeto. Fala sobre a família que escolhemos construir e a importância do acolhimento. É um filme para deixar o coração quentinho.
