Crítica

[Crítica – Mostra SP 2019] Cães do Espaço (2019)

O documentário Cães do Espaço (Space Dogs) recebeu dois prêmios no Festival de Locarno 2019. O Premio Speciale ISPEC Cultura, com menção especial, e o Youth Jury Awards, também com menção especial.




Cães do Espaço tem a narração constante de Alexey Serebryakov, que começa nos contando de Laika, o primeiro ser vivo a viajar ao espaço. A cápsula com a cachorrinha queimou quando entrou na atmosfera e seu corpo foi queimado. A voz do narrador nos conta que, reza a lenda, o fantasma de Laika paira pelas ruas de Moscou, capital da Rússia.

O documentário torna-se interessante ao ser contado numa perspectiva diferente: nós ficamos, durante vários minutos, vendo tudo pela perspectiva de cachorros de rua. As imagens dos cachorros de rua vivendo são intercaladas com imagens de arquivo da era espacial soviética.

Ao mesmo tempo, a escolha de nos deixar acompanhando o dia a dia dos dois cães de rua acaba se tornando um artifício cansativo. Por mais que seja uma ideia interessante, quebra o ritmo do documentário. Uma cena em particular, com um dos cachorros de rua e um gato de rua, é incômoda e longa. O mundo animal é brutal, nós sabemos. Mas, por ter sido uma cena longa, sem nenhum corte, parece uma cena gratuita.

Já as cenas de arquivo da era espacial soviética também tem momentos mais incômodos e chocantes, mas nenhum deles me pareceu gratuito. É interessante ver as gravações daquela época, com a preparação dos cachorros para viagem espacial e também o retorno deles para a Terra.




Cães do Espaço acerta por, sem muita narração e utilizando apenas imagens, conseguir fazer uma crítica sutil à ambição e arrogância dos seres humanos. Em seu silêncio contemplativo, o documentário consegue se fazer entender.

Cães do Espaço faz parte da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo