[Crítica] Wicked (2024)
Assistir a um filme que você está com expectativa alta sempre é perigoso, pois é fácil sair da sala de cinema com a expectativa frustrada. Não foi o que aconteceu com Wicked. O musical é um dos meus favoritos há uns 15 anos e eu estava muito empolgada para assisti-lo no cinema. Demorou 20 anos para o musical chegar às telas de cinema e a espera valeu a pena. O longa acerta em tudo que se propõe a entregar.
Mas vamos começar do início: Wicked conta a história da Bruxa Má do Oeste que conhecemos em O Mágico de Oz. A história do Mágico de Oz é muito famosa e o que Wicked faz é questionar: e se a Bruxa Má do Oeste não fosse tão má assim? O musical nos faz acompanhar a história pelas lentes de Elphaba.
Elphaba não é como as outras crianças desde que nasceu. Ela nasceu com a pele verde por causa do elixir verde que sua mãe bebeu; a mãe de Elphaba teve um caso com um homem, que lhe deu essa bebida verde. Por ter nascido com a pele verde, ela é marginalizada pela sociedade por ser diferente. Ela é incompreendida por causa da cor da sua pele, por ser “diferente”. Metáfora clara que faz um paralelo com a vida real… Por causa de sua aparência, ela é ridicularizada por outras crianças durante toda a sua infância. Elphaba também tem poderes que parecem surgir quando ela está com raiva. Mas ela não tem domínio sobre seus poderes e não entende como e quando usá-los.

No longa, acompanhamos a história interconectada de Elphaba Thropp (Cynthia Erivo) e Galinda Upland (Ariana Grande-Butera) e os anos delas na Universidade de Shiz. Elphaba rapidamente chama a atenção da Madame Morrible (Michelle Yeoh), que vê o seu potencial, enquanto Galinda se esforça para ser notada pela professora, e é rejeitada por ela. Na universidade, com os ensinamentos da Madame Morrible, Elphaba começa a entender melhor como usar os seus poderes.
Elphaba é escolhida pela Madame Morrible, embora isso não fosse sua pretensão, enquanto Galinda é extremamente popular na universidade e quer se tornar feiticeira, mas não é notada pela professora. Na universidade, Elphaba e Galinda são forçadas a serem companheiras de quarto. As duas são relutantes no início, mas, aos poucos, desenvolvem um vínculo de amizade.
Surge uma amizade improvável, enquanto elas lutam pelos direitos dos animais em Oz. O professor de história Doutor Dillamond (dublado por Peter Dinklage) avisa aos alunos que alguém em Oz quer roubar dos animais a capacidade de falar. Elphaba e Glinda descobrem um plano para usar os animais de Oz como fonte de alimentos para humanos. E então as duas viajam para a Cidade das Esmeraldas para conhecer o Mágico de Oz (Jeff Goldblum) e pedir sua ajuda para a causa animal.

Grande parte do charme de Wicked está nas costas de Cynthia Erivo. A atriz consegue interpretar uma Elphaba simultaneamente muito doce e muito forte. Desde o início, ela entrega uma personagem completa e consistente, e consegue evoluir junto com o crescimento da personagem ao longo do filme. A sua atuação é carismática, magnética e dinâmica. É impossível não sentir compaixão e torcer por Elphaba.
Outra grande parte do charme de Wicked tem Ariana Grande como responsável. A atriz tem um timing cômico perfeito do início ao fim do filme, e também consegue entregar carga dramática quando a história pede por isso. Há uma certa teatralidade nos trejeitos de Ariana, mas é totalmente justificado pela própria personalidade da personagem, nada fora do tom. Ariana e Cynthia conseguem imprimir na tela personagens vivas e vibrantes. As duas atrizes conseguem capturar a nossa atenção a cada cena e, juntas, têm uma química incrível. As duas atrizes conseguem construir uma Elphaba e uma Glinda fortes, mas também vulneráveis.

As duas personagens não vão com a cara uma da outra no início, mas elas percebem que uma tem algo que falta na outra. Elas descobrem pontos em comum e pontos que podem melhorar com o convívio com a outra. Apesar de ter diversos personagens coadjuvantes, o filme não foca mais que o necessário neles. O foco ao longo das 2 horas e 40 minutos de duração são Elphaba e Galinda (que acaba virando Glinda). O roteiro de Winnie Holzman e Dana Fox permitiu que Cynthia Erivo e Ariana Grande conseguissem aproveitar o espaço para brilhar, crescer e construir suas personagens com excelência.
Assistir cada número musical ganhando vida com a direção de Jon M. Chu e as interpretações e vozes poderosas de Cynthia e Ariana é um presente. O timing cômico perfeito de Ariana Grande dá o tom do filme em várias cenas. A artista brilha no número de “Popular”, em que Galinda afirma que ensinará Elphaba a ser popular. “The Wizard and I” é um número lindo em que Cynthia Erivo consegue transmitir de maneira doce e encantadora o desejo de Elphaba de pertencer a um mundo que a rejeita. “Defying Gravity” é um dos grandes momentos do filme, seu ápice, e é impossível não se emocionar com a carga que a música, atuações e cena carrega em seu significado. A cena da festa em que Glinda abraça Elphaba de vez também é muito tocante e emocionante. A mistura perfeita de comédia e drama, momentos engraçados e momentos emocionantes, deixam as 2 horas e 40 minutos de Wicked super fluidas, com um ritmo perfeito. Mal dá para sentir a passagem do tempo.

Quando soube que o filme teria uma segunda parte, julguei desnecessário. Após assistir ao filme, esse pensamento não vem mais à minha mente e, na verdade, já estou pronta e ansiosa para assistir à parte dois da história nos cinemas. Se o segundo filme não existisse, o primeiro já se bastaria como uma história forte e completa. A primeira parte é redonda e completa por si só, mas ainda assim consegue instigar a curiosidade e ansiedade pelo que está por vir na próxima parte. A história não se prejudica por ainda não ter contado a “segunda parte”.
A primeira parte de Wicked nos mostra a história de amizade entre Elphaba e Glinda, como elas se ajudaram a mudar para melhor e como tentam estar uma do lado da outra, mesmo quando não entendem suas motivações. A Glinda egocêntrica do início e a Elphaba solitária do início chegam ao fim dessa primeira parte mudadas. E tudo isso é transmitido da forma mais cativante possível por Cynthia e Ariana.
Wicked tem um roteiro sofisticado, que entrega nas entrelinhas muito mais do que aparece na superfície. É uma história forte e cheia de significados; é uma história sobre preconceito, sobre amizade, sobre empatia, sobre julgamentos, sobre autoritarismo e sobre ser aceita. É um filme ousado, divertido, emocionante, doce, inteligente, cheio de coração, visualmente estimulante e com alta habilidade técnica. Faz sorrir e faz chorar. Com certeza, um dos melhores de 2024.
