[Crítica] Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (2025)
Vinte e dois anos após o sucesso de Sexta-Feira Muito Louca (2003), Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan se reencontram em Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, sequência dirigida por Nisha Ganatra que prova que nem toda sequência nostálgica precisa ser repetitiva ou sem graça. O filme mantém o espírito do original, com energia, humor e atuações muito acima do que o gênero costuma exigir.
A história mostra Tess (Curtis) ainda atuando como terapeuta, agora tentando lançar um podcast, e Anna (Lohan) como mãe solteira e empresária no ramo musical. As duas continuam próximas, ajudando na criação de Harper (Julia Butters), filha adolescente de Anna. Harper, no entanto, vive em atrito com a nova colega de escola, Lily (Sophia Hammons), uma estudante britânica.

O conflito entre as jovens se intensifica e aproxima seus pais – Anna e Eric (Manny Jacinto), pai de Lily – em um romance acelerado que culmina em casamento. Porém, na despedida de solteira, as quatro acabam diante de uma excêntrica médium (Vanessa Bayer) que, de forma inesperada, provoca uma troca de corpos quádrupla: Anna e Harper passam a viver a rotina uma da outra, assim como Tess e Lily.
A partir daí, o filme explora novos arranjos: Anna e Tess se unem para reverter a situação, enquanto Harper e Lily tentam aproveitar a oportunidade para impedir o casamento. A proposta dá a Curtis e Lohan a chance de contracenar mais juntas do que no original, com direito a cenas de comédia física e situações engraçadas e absurdas, como uma visita a uma loja de discos de Jake (Chad Michael Murray), personagem que retorna do primeiro longa.

O roteiro, assinado por Jordan Weiss e Elyse Hollander, acerta ao atualizar referências, ao mesmo tempo em que preserva o tom leve. Há momentos de sátira aos hábitos de cada geração, mas sempre preservando o afeto entre os personagens centrais. Mesmo com alguns pontos previsíveis e breves oscilações de ritmo, a produção mantém um clima envolvente e cômico até o fim.
Em meio à onda de continuações nostálgicas, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda se destaca ao recuperar a essência de Sexta-Feira Muito Louca (2003) sem depender apenas da memória afetiva. O filme amplia a história original, agora acompanhando três gerações e adicionando novas dinâmicas à troca de corpos que marcou o sucesso anterior.

O roteiro consegue explorar os efeitos cômicos e emocionais das mudanças sem se perder na confusão, dando espaço para que cada personagem brilhe. As interações entre as protagonistas preservam a leveza e o tom familiar, enquanto mostram atritos reais, principalmente no relacionamento inicial entre Harper e Lily, que evolui para uma amizade convincente.
Assim como no filme original, o carisma da dupla principal é um dos grandes atrativos. Curtis e Lohan demonstram a mesma sintonia de anos atrás, agora com novas camadas. Os conflitos familiares acrescentam frescor à trama e fazem a narrativa avançar além da simples repetição de fórmulas.
Lindsay Lohan entrega uma Anna calorosa e engraçada, enquanto Jamie Lee Curtis reforça sua versatilidade ao alternar entre humor físico e momentos de emoção, e entrega piadas afiadas sobre envelhecimento com naturalidade. Julia Butters e Sophia Hammons demonstram química tanto como rivais quanto amigas. Mesmo não sendo simpáticas de imediato, Harper e Lily ganham empatia ao longo do filme. Manny Jacinto constrói um par romântico carismático. Chad Michael Murray ajuda a expandir o universo com participação marcante.

Com referências à banda fictícia Pink Slip e ao clima de comédias adolescentes dos anos 2000, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda conversa tanto com quem cresceu com o original quanto com um público novo. É um filme que deve divertir diferentes idades e mostra que, quando bem planejada, uma sequência pode ser tão envolvente quanto a obra que a inspirou.
Com um elenco grande e a missão de equilibrar personagens novos e antigos, além de incorporar mais trocas de corpo do que o filme original, Uma Sexta-Feira Mais Louca poderia ter se tornado confuso. Porém, a direção de Nisha Ganatra mantém o ritmo e aproveita bem as interações, resultando em uma sequência que, embora não fosse exatamente necessária, cumpre o papel de divertir e honrar o original. O filme consegue inserir novos personagens em uma situação familiar, mantendo a essência do material original e, ao mesmo tempo, expandindo a história em novas direções.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda cumpre o que se propõe: uma comédia leve, com elenco afiado e o sabor nostálgico de um reencontro aguardado pelos fãs. Sem reinventar a fórmula, o filme caminha na linha entre homenagem e renovação, além de revisitar elementos já conhecidos, mas mantendo o ritmo, sem se tornar repetitivo.
Em um ano repleto de continuações sem brilho, reboots esquecíveis e derivados pouco inspirados, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda surge como uma das melhores “sequências nostálgicas” já produzidas. O longa não pretende reinventar o gênero, mas oferece exatamente o que o público espera: uma comédia leve, cheia de energia, humor e com espaço para a emoção.


 
			 
							 
							