[Crítica] O Ritual (2025)
Um terror baseado em um suposto caso real de possessão demoníaca, estrelado por Dan Stevens e Al Pacino, parecia a receita perfeita para um sucesso. Mas a promessa não se cumpre: O Ritual entrega tensão e sustos pontuais, mas se perde em fórmulas gastas e não consegue se destacar no saturado subgênero de possessão.
A obra dirigida por David Midell segue um roteiro previsível, apostando no selo “baseado em uma história real” sem conseguir sustentar o peso da afirmação. O caso retratado aqui é o exorcismo mais famoso e documentado da literatura religiosa dos Estados Unidos.

Escrito por Midell em parceria com Enrico Natale, o filme acompanha dois padres que se unem para realizar um exorcismo perigoso em uma jovem chamada Emma Schmidt. O elenco traz Dan Stevens como o Padre Joseph Steiger e Al Pacino interpretando o experiente Padre Theophilus Riesinger. Completam o time Ashley Greene como Irmã Rose e Abigail Cowen como a possuída Emma.
O longa é inspirado nos relatos do Padre Joseph Steiger, um sacerdote católico real que documentou um dos exorcismos mais longos da história dos Estados Unidos. Ambientado em Earling, Iowa, nos anos 1920, o filme começa com um tom sombrio e sério. Logo conhecemos um jovem Steiger, abalado pelo suicídio do irmão e desiludido com a postura da Igreja sobre doenças mentais. É nesse estado frágil que ele é convocado para ajudar no exorcismo de Emma Schmidt, uma jovem com sintomas violentos e inexplicáveis. O ritual se estende por 23 dias.

O único personagem mais aprofundado é o Padre Steiger, que enfrenta crises de fé após uma perda recente e, inicialmente, duvida da possessão de Emma. Dan Stevens traduz bem essa carga dramática. Os demais personagens recebem menos desenvolvimento, mas as atuações seguram o filme: Al Pacino empresta peso e presença ao papel, Ashley Greene equilibra desconforto diante do mal e afeição discreta por Steiger, e Abigail Cowen rouba a cena, alternando fragilidade e fúria em uma performance que sustenta os momentos mais tensos.
O Ritual tenta construir medo e suspense, mas termina soando genérico. Falta singularidade, e o rótulo de “história real” não tem o impacto de outros títulos que usaram o recurso de melhor forma, como O Exorcismo de Emily Rose ou O Exorcista (1973) — o filme deixa claro que mostra os eventos reais que deram origem ao clássico de 1973. No fim, o impacto é mínimo e a experiência, esquecível.

Mesmo com boas atuações, o terror em O Ritual não cresce como esperado. Há atmosfera, há tensão, mas falta a escalada típica de filmes do gênero, aquela a sensação de que tudo vai sair do controle. O que se vê, no fim das contas, é um terror previsível, preso aos clichês do gênero, sem espaço para inovação. Midell tenta variar a linguagem visual com câmera tremida e closes abruptos que lembram “found footage”, mas o efeito soa forçado e não acrescenta nada à narrativa.
Em vez de explorar o drama ou a tensão que o tema permite, o longa se acomoda em clichês e nunca sai do piloto automático. O resultado é um terror morno e sem impacto, que parece que nunca engata e é incapaz de marcar ou acrescentar algo ao gênero. Com roteiro que não se aprofunda e direção sem impacto, O Ritual acaba sendo só mais um entre tantos títulos do gênero… e um dos menos memoráveis.

No fim, O Ritual não é um desastre completo, mas também não é envolvente e não acrescenta algo novo ao gênero. É mais um capítulo em uma longa fila de exorcismos “baseados em fatos reais” que parecem dizer a mesma coisa e que você esquecerá pouco depois dos créditos finais.


