Crítica

[Crítica] O Brutalista (2024)

Em O Brutalista, o arquiteto judeu e húngaro László Tóth (Adrien Brody) vai para os Estados Unidos para fugir da Europa, onde o nazismo está em uma crescente. Ele é pioneiro na técnica do brutalismo, que deixa o cimento visível nas obras. Sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) chega ao país mais tarde, em uma cadeira de rodas, por ter passado fome e ter sofrido por osteoporose, após ser “salva” dos campos de concentração nazistas pelos russos.

Ao chegar nos Estados Unidos, em Nova York, o filme mostra uma visão enviesada da Estátua da Liberdade, representando o sonho americano de forma comprometida, que é uma das principais ideias abordadas aqui. Ele encontra o seu primo Attila (Alessandro Nivola), dono da loja de móveis Miller & Sons. Attila “americanizou” o seu nome, agora é conhecido como Miller, e se converteu convenientemente ao catolicismo porque, de acordo com ele, norte-americanos adoram negócios familiares. Toth nunca americaniza o seu nome.

A genialidade do protagonista chama a atenção de Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce). Mas ele logo é descartado. Ele foi contratado para transformar o antigo escritório de Harrison Lee Van Buren em uma moderna biblioteca, mas o trabalho não sai como planejado e tudo dá errado. Após uma noite de festa, Audrey (Emma Laird), esposa de seu primo, acusa László de ter dado em cima dela. Seu primo, claro, não gosta do que ouviu e a partir daí o protagonista começa a entrar em um espiral de destruição, com vício em heroína, trabalhos braçais e marginalização. Ele passa a viver em um abrigo para moradores de rua e trabalha onde consegue.

O Brutalista (2024)

Anos depois, após o estilo de László virar adorado entre a comunidade de arquitetura, Harrison Lee Van Buren tenta reatar os laços com o personagem e o contrata para construir um centro comunitário. Ao longo dos 215 minutos, acompanhamos um padrão de vitórias e derrotas consecutivas do protagonista. Há um breve momento de alívio quando Erzsébet e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy) chegam à cidade, mas ele logo volta a focar no trabalho, enquanto seu vício em heroína cresce e passa a ser cada vez mais difícil de esconder.

O filme, amplamente premiado e cheio de indicações ao Oscar, tem seus méritos. A atuação de todo o elenco, especialmente de Adrien Brody, é o grande destaque daqui. Ao mesmo tempo, o filme muitas vezes perde o seu controle narrativo, principalmente no segundo ato. Se fosse limitado e finalizado ainda no primeiro ato, talvez teria um resultado melhor e mais coeso. Entretanto, quando a parte 2 começa, a sensação é de que o filme já poderia acabar. Mas está longe disso. A primeira parte consegue construir uma boa base, mas a segunda parte parece não ter tempo de resolver, e sim apenas criar mais lacunas. A parte 2 também adiciona um tom sexual muitas vezes desnecessário ao filme, com uma cena de estupro que parece estar ali apenas como recurso da trama.

A ideia do filme, de mostrar a saga de imigrantes ao longo de décadas, começado no fim da Segunda Guerra Mundial, e de analisar a experiência judaica no pós-guerra é interessante e um dos pontos fortes do filme. A narrativa é crua e imponente, fazendo paralelo com a própria estética brutalista na arquitetura. Há, sim, momentos de excelência, mas a ambição do filme parece ser maior do que ele é capaz de colocar em prática. O filme é muito longo e dá para sentir toda a sua duração de 3h35, não é daqueles filmes que você termina dizendo que “não viu a hora passar”. Às vezes, fica difícil manter o interesse pela narrativa monocromática e por vezes maçante. Quando um filme é tão longo, é natural se perguntar o motivo dele durar tanto tempo e se isso é justificado. Aqui, não acho que se justifica.

O Brutalista tem como seus principais méritos as atuações, trilha sonora marcante ao longo de toda a sua duração e senso de grandeza a cada cena. O filme consegue trabalhar bem a ideia do falso sonho americano e a realidade dos imigrantes, mas deixa outras várias ideias e provocações pelo caminho. É um filme tecnicamente ótimo, filmado lindamente. É um filme épico e com a “cara de Oscar”. Seu mérito cresce ainda mais quando levamos em conta o seu considerado baixo orçamento. Ainda assim, fica a sensação de que falta algo e que o filme nunca decola de vez. O Brutalista é um filme visualmente marcante, mas com roteiro com poucas nuances, que tenta a todo momento se mostrar maior do que realmente é. Não é um filme horrível; tem momentos brilhantes, mas também tem momentos penosos de assistir. E muitas pontas soltas no final.