Crítica

[Crítica] O Aprendiz (2024)

O Aprendiz mostra o início da carreira imobiliária de Donald Trump (Sebastian Stan), enquanto cria relação e aprende com o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong), que vira seu mentor. O longa mostra como Trump, hoje em dia também ex-presidente dos Estados Unidos, começou a construir o seu império com postura predatória, manobras fiscais questionáveis, não pagando funcionários e por aí vai. Todo o filme tem uma espécie de relação de criador e criatura, médico e monstro, entre Trump e Cohn.

Sebastian Stan consegue encapsular bem todas as nuances de Trump, sem representar uma caricatura fácil, desde o personagem no início do filme, ainda como uma figura insegura, até aquele a que estamos mais familiarizados hoje em dia, que tenta criar uma imagem de homem forte e invencível, que não aceita derrota (como a que sofreu nas urnas contra Joe Biden, nas eleições estadunidenses).

O figurino e maquiagem cuidados por Laura Montgomery auxiliam na identidade visual do protagonista, adicionados aos trejeitos e modo de falar perfeitamente reproduzidos por Stan. Os filtros nas imagens do filme também dão um tom documental, como se estivessemos espiando o que aconteceu na vida de Trump há décadas, no início da construção de seu império. A primeira metade do filme é boa. O diretor Ali Abbasi consegue mostrar bem a transição do Trump ainda jovem e inseguro para o homem frio e disposto a passar por cima de todos, até mesmo de seu mentor. (Mas, vale citar aqui, que mesmo durante seus 20 anos, ainda inseguro, ele considera que seu maior diferencial é seu instinto “matador”)

No início, vemos Trump aprendendo as três regras ensinadas por Cohn: vencer a qualquer preço, questionar o que é verdade e nunca admitir a derrota. Ainda décadas depois, como sabemos, Trump ainda usa essas regras hoje em dia. Não só a atuação de Sebastian Stan se destaca no filme. Jeremy Strong também é uma forte presença durante o longa e divide uma boa química na tela com o protagonista. Strong consegue capturar tanto a crueldade quanto a decadência de seu personagem.

O Aprendiz

Trump se esforça para conquistar Ivana (Maria Bakalova), mas, com o tempo, passa a tratá-la mal. O filme mostra a história do relacionamento entre eles a partir do olhar predatório de Trump. Fora do filme, em processo judicial, Ivana acusou Trump de tê-la estuprado. Depois, retirou a acusação. O filme tem uma cena forte que representa o ato que inicialmente Ivana acusou Trump de cometer. Sobre o filme, inclusive, Trump comentou e classificou como “difamação maliciosa” e disse que entraria na justiça por causa da forma que sua história foi retratada. Sobre a cena em que estupra Ivana, ele afirmou: “Minha ex-esposa, Ivana, era uma pessoa amável e maravilhosa, e eu tive um ótimo relacionamento com ela até o dia em que ela morreu”.

O Aprendiz é um estudo de personagem. Ou um filme de origem de um vilão. Os princípios tóxicos e modus operandi de Cohn permanecem vivos em Trump até hoje, isso é notório. Mas O Aprendiz parece passar um pouco de pano para Trump e, querendo ou não, mostrar que Trump poderia ter sido alguém mais… decente? ze não tivesse cruzado o caminho com Cohn. Como se, de alguma forma, a culpa de quem Trump se tornou recaísse sobre Cohn. O filme não parece acrescentar muito além de mostrar como Trump é, após a “mentoria de Cohn”, inescrupuloso, seja com a família, nos negócios, nos relacionamentos ou na política.

Para finalizar essa crítica, deixo a opinião de Donald Trump sobre o filme, compartilhada na rede social Truth Social: “Espero que um filme fajuto e sem classe sobre mim, chamado ‘O Aprendiz’, fracasse. É uma produção barata, difamatória e politicamente nojenta, lançada estrategicamente antes da Eleição Presidencial de 2024 para tentar prejudicar o maior movimento político da história do nosso país”. Então esperamos que O Aprendiz seja bem sucedido.