[Crítica] Salamandra (2021)
Salamandra, dirigido por Alex Carvalho, nos mostra a trajetória de Catherine (Marina Foïs), francesa que vem ao Recife durante seu processo de luto. Ela vem ao Brasil após o falecimento de seu pai, enquanto está se sentindo perdida, e se hospeda na casa da irmã.
O filme é cheio de cenas eróticas, que exalam sensualidade, mas sem ser tão explícito ou clichê. As longas e recorrentes cenas conseguem exibir com naturalidade e precisão os desejos dos dois personagens. O longa tem cenas bonitas, com boa fotografia.
As performances dos atores principais se destacam. A protagonista Marina Foïs consegue transmitir de maneira precisa cada sentimento que a personagem tem a cada cena, enquanto Maicon Rodrigues, que interpreta seu par romântico Gil, consegue adicionar uma dose equilibrada de mistério e carisma sempre que aparece.
O filme não possui muitos diálogos, mas os dois personagens principais conseguem traduzir em tela uma boa comunicação mesmo sem a fala, o que mostra a química entre os dois atores – ainda mais justificada após o diretor Alex Carvalho confessar, em sessão debate após exibição do longa, que Marina e Maicon se relacionaram durante as gravações. Catherine fala muito pouco português, Gil não fala francês, mas eles conseguem se entender na maior parte do tempo.

Mesmo com o início promissor, profundo e empolgante, e com a ótima atuação dos atores, faltou ao filme se aprofundar mais em temas que tocou. Ao mesmo tempo em que é louvável o fato do roteiro fugir de características estereotipadas dos dois personagens principais, Salamandra arranha alguns tópicos importantes e complexos, como o do contraste social e racismo, mas de forma rasa e rápida, como na breve cena em que falam para Gil, que está na piscina, que aquele local é apenas para moradores. A cena, que é boa, parece deslocada do contexto geral do filme.
O início do filme é bem promissor e consegue mostrar a falta de esperança, de perspectiva e esgotamento emocional da protagonista, assim como seu desejo de se libertar e se refazer, como uma salamandra. Mas, apesar do início promissor e claro, Salamandra vai perdendo a força e o foco à medida que a história avança. O terceiro ato, que poderia ser o grande final da jornada de autodescoberta de Catherine, acaba deixando uma sensação forte de anticlímax. O filme tenta construir um suspense, sem muito sucesso, e ao final fica a sensação de que algo ficou perdido e que a história não rendeu tudo o que podia. Salamandra perde força na parte final, mas continua sendo uma estreia interessante do diretor.
