Crítica

[Crítica] Dor e Glória (2019)

Dor e Glória é um filme que nos faz lembrar por que Pedro Almodóvar é tão aclamado. O seu vigésimo primeiro longa-metragem é sensível ao abordar vários temas e tem toques de autobiografia.




Dor e Glória conta a história de um cineasta espanhol, Salvador Mallo, interpretado por Antonio Banderas. Um de seus filmes voltou a ser exibido 30 anos após o lançamento e agora é considerado um clássico no cinema do país. Essa reexibição faz o diretor entrar em contato novamente não apenas com a película, como com questões que lidava na época e com pessoas que convivia naquele momento.

Esse retorno ao passado faz o cineasta se aproximar de relações antes perdidas e revisitar a sua infância na década de 1960. Nessa época, sua mãe é interpretada por Penélope Cruz. No presente, ele vai em busca do ator principal de seu filme, Alberto (Asier Etxeandia), com quem estava brigado há 30 anos.

Salvador também sofre de muitas dores, pelo corpo e na mente. Enquanto usa heroína como escape de sua atual vida cheia de dor, vemos cenas de seu passado. O filme fala sobre relações entre pessoas que passaram pela nossa vida e como sempre fica algo delas em nós.




Almodóvar classificou Dor e Glória como seu trabalho mais pessoal. E isso é palpável durante todo o longa. Podemos sentir o tom confessional do diretor falando sobre alegrias e tristezas. O próprio título, ao colocar dor e glória lado a lado, faz esse paralelo entre sensações opostas, mas que sempre podem andar ao nosso lado.

E um tema também constante no filme é o amor. Amor romântico, amor pelas artes, amor por sua mãe… Vemos tudo isso ao longo dos flashbacks; o filme se passa em duas linhas temporais. Os diálogos do filme são simples, mas sempre carregam muita profundidade e sensibilidade.

A atuação de Antonio Banderas está simplesmente divina. Entre os filmes que já assisti com ele no elenco, provavelmente essa é a minha atuação preferida do ator. Sem que seja preciso falar, o ator consegue transmitir as dores físicas e emocionais que o personagem sente. O olhar do ator, o sorriso sem jeito em algumas cenas, os olhos cheios de lágrimas em outras… tudo no ponto, sempre com muita delicadeza.




Penélope Cruz também, como sempre, maravilhosa. A atriz interpreta bem o papel de mãe protetora que faz de tudo para oferecer uma melhor condição de vida ao seu filho. Sempre em cenas de flashback, ela é uma personagem-chave para toda a trajetória do cineasta e sempre consegue transmitir a ternura e amor que sente pelo filho.

A parte técnica do filme também eleva a experiência. Como todos filmes de Almodóvar, somos brindados com todas aquelas cenas de cores vibrantes. Essas cores vibrantes tão familiares nos filmes do diretor, inclusive, cria um bom contraste com a condição do protagonista.

Dor e Glória é um filme sobre amor, dor, família, amores. E como digerir toda a sua jornada e transformá-la em arte. É sempre um deleite assistir a um filme que consegue passar sua mensagem de forma tão simples, comovente e bonita.