Crítica

[Crítica] Julieta (2016)




Julieta é o novo e vigésimo filme de Pedro Almodóvar, baseado em três contos do livro Fugitiva, de Alice Munro. O filme se concentra em relações familiares, em especial na personagem-título, professora de filologia clássica, e nos conta a história quase o tempo inteiro em flashback. Sua versão mais velha relembra um período de sua vida enquanto escreve uma carta para a filha que não fala ou vê há anos.

Nós acompanhamos a vida de Julieta durante três décadas, com detalhes sobre como ela conheceu seu marido, teve sua filha, perdeu o marido e perdeu a filha. Tanto Adriana Ugarte, a protagonista no passado, como Emma Suárez, a protagonista no presente, estão ótimas no papel. Principalmente Adriana Ugarte, como a versão jovem de Julieta, até pelo fato de ter bem mais tempo em cena. Mas cada uma nos mostra diferentes facetas de da personagem.

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Além das ótimas atuações, o filme nos presenteia com belas imagens. Como a vista para o mar que uma casa tem, a forma que a câmera filma um casal fazendo amor, mostrando o seu reflexo na janela do trem em movimento, o cervo e o homem estranho no trem, que só queria conversar e acaba se suicidando, deixando a protagonista cheia de culpa. E, claro, também há muitas cores, um colorido pulsante, como é comum em filmes de Almodóvar.

Durante todo o filme, a protagonista tenta se reconectar com sua filha de alguma forma. Ela desiste da mudança que faria com o namorado Lorenzo (Dario Grandinetti) – os dois iriam embora de Madri para morar em Portugal – e volta para o prédio que morava no passado. Na carta que escreve para a sua filha, conta como conheceu seu pai, Xoan (Daniel Grao).

Almodóvar acerta ao conseguir nos colocar na cabeça de Julieta, no centro de suas emoções e memórias. E também sobre como as memórias passadas podem nos deixar reféns. Os flashbacks vão ficando maiores no filme, até que o ocupam quase por completo. Também há toques de thriller, mas só em seu ar, pois não há qualquer assassinato de fato.

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Enquanto a Julieta jovem é colorida, cativante e tem um brilho no olhar, a sua versão mais madura tem uma melancolia clara no olhar, é insegura e abatida. E nós acompanhamos o caminho que existe entre a primeira se transformar na segunda. E até as cores, tão clássicas em filmes de Almodóvar, entram em ação para ilustrar essa transição. Se no passado o filme é colorido e vibrante, com o passar do tempo ele vai perdendo a cor.

O filme também é muito feminino e mostra com sutileza a dor de mulheres com diversas nuances. E há ainda mais contrastes, como quando vemos a mãe de Julieta, já no fim da vida e de cama, vivendo com seu esposo e a ajudante da casa, que é o novo amor dele, jovem e sempre sorridente.

Julieta é um filme sobre culpa. A mãe e a filha são consumidas pela culpa, cada uma em seu mundo, cada uma em seu grau. E também é um filme sobre depressão, morte, perda, desprezo, luto e ausência. Não é um de seus melhores filmes, mas é agradável de assistir e é um primeiro passo de volta ao melodrama que fez do diretor tão querido internacionalmente. É um filme mais contido entre a sua filmografia, mas ainda assim rico em detalhes e significados. Não é uma grande obra, mas não deve ser descartado.

Nota: 3.5/5

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