[Crítica] Better Call Saul: 2×02 – Cobbler
O tema central na série Better Call Saul é o de como se inicia a criminalidade. Sendo um produto tão bem trabalhado e refletido (assim como o era Breaking Bad), absolutamente nada é tão simples quanto parece. Não é que Jimmy seja um bandido à espera da oportunidade e por isso se sinta frustrado por não realizar suas façanhas além da lei. Tem mais a ver com um ser humano que não acredita nas leis da forma que estão colocadas.
A ambiguidade moral do personagem faz andar toda a série. Em mais um episódio que dispensa maiores elogios, Jimmy pode dar vazão ao seu lado mais não-ortodoxo de advogado quando defende o (não há outra palavra) panaca do Daniel. Faz como um favor a Mike, que já trabalhou para Daniel e, em algum nível, teme ser enquadrado pela polícia caso descubram a conexão. Mas é difícil saber se o favor é feito a Mike, ou se este sem querer favorece Jimmy.
O plano que o advogado arquiteta para despistar o faro dos policiais é incrível, beira o absurdo e, por isso mesmo, talvez seja impossível de não acreditar em sua veracidade. Roteiristas talentosíssimos, os de Better Call Saul inventaram uma situação bizarra de pornografia com tortas e um homem de meia idade que dá o tom perfeito da série. Assistir Bob Odenkirk em sua impecável figura de Slippin’ Jimmy é o grande prazer que a série oferta.
Em que momento ele irá dizer que já basta? Que sua vida dando golpes tem muito mais a ver com o que quer para si? Mas, mais importante, será isso uma decisão unilateral ou ele será “forçado” a escolher o caminho menos trilhado. A cena final é de muita beleza (a série tem se aperfeiçoado em misturar elementos de ternura e canalhice). Kim, que está torcendo bastante pelo sucesso do namorado, escuta apreensiva o caso da torta. Quer achar engraçado, mas ao descobrir que Jimmy produziu evidências falsas para a polícia, não consegue mais compactuar com a leveza do relato. Seu personagem, aliás, dá enorme fundo moral à série e ancora os espectadores. Jimmy tenta dizer que aquilo não é nada demais, mas não consegue convencer nem a si mesmo. Ao que parece, seu dilema está longe de ser resolvido.
Nota: 4/5