[Crítica] Spotlight – Segredos Revelados (2015)
Em 2002, a partir de uma matéria do The Boston Globe, foi revelado que o alto escalão da igreja católica mantinha há anos a prática de acobertar crimes de pedofilia praticados por padre. Ocorria da seguinte maneira: sempre que descobriam que um crime fora cometido, o padre em questão era distanciado da instituição por alguns meses e, logo após, enviado para uma paróquia diferente, onde poderia sem grandes dificuldades voltar a cometer o crime.
Após revelado o cenário trágico, diversas vítimas em todo o mundo, na época já adultas, tiveram coragem para denunciar o que lhes acontecera anos antes, causando assim um efeito bola de neve nunca antes visto na comunidade católica, que desde então abalou bastante a instituição.
Não era apenas nos Estados Unidos que a prática da igreja acontecia. Centenas de cidades no mundo apresentaram ocorrências idênticas. A questão chegou até o Vaticano.
Spotlight – Segredos Revelados oferece uma visão competente de como o trabalho jornalístico que permitiu retirar o véu dos desmandos da igreja foi realizado. Dirigido por Tom McCarthy (mais conhecido por dirigir comédias), o filme busca falar de como o jornalismo investigativo, que nos dias de hoje se encontra bastante solapado pelo imediatismo e demandas da mídia online, é importante. Sem a persistência e amor ao jornalismo dos profissionais apresentados pelo filme, é bastante provável que os casos monstruosos praticados por padres continuassem sendo acobertados até hoje.
Estrelam o filme e conferem competência ímpar aos retratos destes jornalistas atores consagrados como Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Michael Keaton e outros não menos dignos de nota. Todos se complementam; aqui não há um caso de atuação que se destaque, é mesmo um filme de elenco, onde o que mais salta aos olhos é a sua mensagem.
A obra tem um ritmo acelerado em que a complexidade e grande quantidade de informação é dosada de maneira equilibrada. O espectador vai descobrindo junto com os jornalistas e se perguntando como foi possível um esquema com padrões tão claros e de capacidade inimaginável de danos às pessoas se manter por tanto tempo. A própria equipe, em determinado momento, precisará fazer um mea culpa. O jornalismo não é apenas uma profissão; é uma necessidade de qualquer democracia saudável. Ele precisa ser independente e passar, sempre que possível, pelo escrutínio das próprias pessoas que o produzem. É disso que o filme tenta falar, e o faz com muita competência.
Nota: 4/5