[Crítica] Brooklyn (2015)
Baseado no romance homônimo do escritor irlandês Colm Toibin, Brooklyn conta a história de Eilis (Saoirse Ronan), irlandesa que como muitos de seu país, especialmente nas primeiras décadas do século 20, partiram para Nova York em busca de uma vida melhor, com perspectivas mais amplas.
A Irlanda, até bem pouco tempo atrás, ainda vivia sob o signo da partida. Era um país conhecido por ser deixado. Nas últimas décadas, com notório crescimento econômico (mesmo passando por uma difícil crise pós-2008), a ilha passou até a receber mais gente de fora, invertendo assim a situação. O país retratado no filme é o dos anos de 1950.
Eilis chega a Nova York, mais especificamente no Brooklyn, e passa por todos os sentimentos de uma pessoa que acaba de cair num outro planeta. (Por sinal, a condução que Saoirse Ronan confere à personagem, tímida, não afeita à expressão fácil de sentimentos, e, no entanto, tagarela quando feliz, é magistral.) Ela passa pela descoberta do novo lugar e, mais importante, pela tentativa de encontrar pontos onde se agarrar, esferas a partir das quais irá chamar aquele estranho lugar de seu “novo lar”.
Com o tempo, ela encontra onde se agarrar. A partir de então o filme começa a nos perguntar: “Mas o que é, afinal de contas, páreo para nosso verdadeiro lar?”. Há sutilezas na obra de muita beleza, conduzidas pelo diretor John Crowley, como por exemplo: a luz de Nova York é sempre mais quente que na Irlanda. Uma luz fria, azulada, poderia sugerir que a Irlanda é um lugar mais triste, menos acolhedor; no entanto, a luz fria parece exprimir com muita agudeza a alma de Eilis, que aspira a todas essas qualidades tipicamente irlandesas. A certa altura do filme ela diz: “Eu gosto daqui. Vocês são calmos, civilizados”.
Ao mesmo tempo o filme joga com a nossa incapacidade de se satisfazer. Em Nova York, ela veste suas roupas irlandesas, de tecido grosso e puído, destoando do resto do batalhão que cruza aquelas enormes avenidas. Na Irlanda, ela veste roupas luminosas e da moda de uma garota norte-americana. Antes de fincar suas bases em qualquer lugar que seja, ela quer ter certeza de que fez a escolha certa. Mas a vida não nos dá essa alternativa. A nós não é permitido saber de antemão o que nos trará felicidade; ficamos com o ônus da escolha sempre.
Em grande parte, o filme me lembrou o que o cinema é: a poética da imagem, a despretensão, a simplicidade transfigurante de se contar uma história. Todos os recursos clássicos estão ali, e não estão cansados; não o estão porque o que sentimos parece eterno e eternamente insolúvel. Brooklyn é um consolo estético, é um afago artístico. É um lindo filme.
Nota: 4/5