[Crítica] Perdido em Marte (2015)
O filme Perdido em Marte funciona como uma homenagem à ciência. Nesta mensagem, a lembrança de que problemas aparentemente insolúveis podem ser teorizados, repensados, testados, medidos e, enfim, solucionados se neles forem empregados métodos testados e se a grandeza de espírito do indivíduo permitir.
É surpreendente o elenco que se reuniu para fazer esse filme. Por várias vezes me perguntei se era mesmo necessário ter gente tão qualificada se prestando a papeis pequenos, mas… bem, não faz mal ao filme de forma alguma. Alguns dos rostos que você vai ver de repente: Kate Mara, Kristen Wig, Jeff Daniels, Sean Bean, Jessica Chastain. E são só alguns deles.
De alguma forma, não deixo de notar, resta aí também uma leve deficiência temática do filme. O filme, baseado do romance homônimo de Andy Weir e dirigido por Ridley Scott, conta a história de Mark Watney (Matt Damon) que, após passar problemas com seu grupo em missão em Marte, se encontra sozinho no planeta com recursos escassos para manutenção da própria vida. Depois decidir que não vai se entregar ao desespero, Watney põe a cabeça de botânico para funcionar e desenvolve um plano de subsistência que envolve plantar batatas.
O processo se mostra complexo e fascinante. Acompanhamos o botânico-astronauta bolar um sistema de cultivo de batatas com terra de marte misturada a detritos de fezes. A mera ação e regar a plantação se revela tarefa quase impossível visto que ele não possui água à vontade. Toda a sequência é fascinante. Por mais que a ciência tenha avançado, percebemos, no senso comum ela ainda não é vista como o meio principal ao qual se recorrer na solução de problemas das mais diversas naturezas.
Finalmente, por meio de processos cada vez mais complexos, Mark Watney consegue entrar em contato com a NASA na terra. A densidade dramática do filme é maior nesse momento. Ridley Scott consegue passar bem a sensação algo surreal que é estar nessa situação. Não obstante, o filme se mantém em tom otimista, o que lhe confere evidente frescor frente a filmes do gênero.
O plano de resgate do astronauta é ainda mais inacreditável do que tudo já mostrado no filme até aquele momento. Após um contratempo bastante desanimador, descobre-se que esse resgate pode ser mais difícil ainda do que se imagina.
Não é foco do filme, portanto senti falta de certo peso existencial. Por isso, quando o filme finalmente foca certos pensamentos em voz off do astronauta perdido naquele planeta, sai um tanto artificial e gratuito. Podia facilmente passar sem, e não dar o gostinho de existencialismo de supermercado que fica nos dias logo antes de Watney ser resgatado. Também a complexidade científica que envolve a sua busca deixa de ser fascinante para ser somente inacreditável. No mais, o filme é garantia de diversão de qualidade.