Crítica

[Crítica] Fargo – 1ª temporada

[Crítica] Fargo: Primeira Temporada
Em 1996, os irmãos Coen (Joel Coen e Ethan Coen) lançaram o filme, que veio a ser aclamado pela mídia e que recebeu o Oscar de melhor filme, Fargo. Amplamente elogiado pela crítica, o filme acabou sendo indicado a sete categorias do Oscar, levando a estatueta por melhor atriz e melhor roteiro. A série procura resgatar o universo criado pelo filme, que se traduz por um ligar ermo – gelado -, por pessoas de boa índole, até mesmo inocentes, mergulhadas num mundo ruim e, mais notadamente, na comédia de erros que se estabelece, criando uma teia de assassinatos.

A primeira temporada da série abre belamente com o personagem Lester Nygaard (Martin Freeman). Pacato corretor de seguros, sua vida entra numa espiral de loucura depois que tem uma conversa casual, muito curiosa, com um assassino de aluguel. O nome do assassino (interpretado por Billy Bob Thorton) não fica claro durante a temporada. Ele acaba matando um homem que importuna Lester. 

Os dois destaques óbvios de atuação da série ficam com Freeman e Thorton. Freeman está ótimo dando vida ao típico loser norte-americano – ele faz até mesmo um sotaque impecável – e sabe conduzir muito bem a mudança de personalidade que se opera no personagem ao longo da série, conferindo-lhe boa dose de humor e humanidade. Thorton interpreta um vilão frio que testa o tempo inteiro os limites do aceitável no comportamento social. Numa cena bastante emblemática, ele, depois de ser parado por um policial por dirigir acima da velocidade permitida, consegue escapar incólume apenas porque faz uma ameça velada ao policial. Sem precisar levantar a voz, ou mostrar uma arma ele comunica a ideia de que a vida não possui de fato regras, mas que consiste num mundo de predatismo puro. 
É importante lembrar que a série se passa em locais historicamente pacíficos dos Estados Unidos, habitados por um povo ordeiro que é costumeiramente visto como caipira em seu país. Uma enxurrada de assassinatos, portanto, está bem longe de ser algo comum. Adiciona-se a isso que os policiais, na maioria das vezes, se mostram inconsolavelmente incompetentes – senão porque corruptos então porque nunca esperar que algo tão ruim possa acontecer (o que é irônico quando se constata que são, afinal de contas, policiais). 
A série bate na tecla do predatismo constantemente assim com o faz com a incompetência patente do establishment policial da cidade de Bemidji. Os personagens são extremamente carismáticos e isso ajuda a conferir o universo de Fargo. O humor negro, e por vezes nonsense, está em pegar figuras puras e jogá-las em situações impensáveis, insolúveis. 
A série foi criada por Noah Hawley, que também escreveu todos os capítulos da primeira temporada. É um exercício heroico o que ele fez, mesmo tendo tomado emprestado o universo e atmosfera criadas pelos irmãos Coen no filme de 1996. Indico vivamente a série e acrescento: você ficará atordoado ao perceber que a segunda temporada consegue ser ainda melhor, mas muito melhor.  
Nota: 4/5

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