Crítica

[Crítica] The Leftovers: 2×10 – I Live Here Now

[Crítica] The Leftovers: 2x10 - I Live Here Now

The Leftovers finaliza a segunda temporada deixando muita coisa no ar, o que de maneira alguma é um problema em si. Vindo na esteira de um episódio fraco, a season finale se ergue e mantém a qualidade apresentada de maneira constante durante a temporada, mesmo que tenha ficado aquém dos grandes momentos – estes de fato prometiam um evento televisivo, mas não foi o que aconteceu.

Os acontecimentos caminham, no último episódio, para a culminância do ato preparado por Megan. As três meninas desaparecidas surgem no meio da ponte. Atuando como um verdadeiro membro dos GR, Evie escreve em seu bloco de notas “UMA HORA”. Naturalmente, todos se convencem de que uma bomba vai explodir ao final desse tempo. O que é muito curioso, ao ponto de ser simplesmente inverossímil, é que nenhuma daquelas milhares de pessoas tem a ideia de fugir dali. Pode se sugerir, certamente, que não era certo que uma bomba viria a explodir, mas considere o universo criado na série. As pessoas ali vivem na iminência de que algo aterrorizante aconteça (algo como o Arrebatamento), vivem num mundo em que a ideia própria de segurança perdeu o sentido e, afinal de contas, todos estão ali desejando entrar na cidade de Jarden a fim de se sentir seguros. A sugestão de que não haveria uma debanda à indicação de uma completa maluca de que um explosão aconteceria é forçada, algo ofensiva até para quem acompanha a série e a identifica como uma das grandes atualmente.

Essa não é a única inconsistência na ordem de roteiro que acontece. Outras, no entanto, pecam na narrativa. Há algumas repetições de recurso que fazem a coisa toda parecer um pouco cansada. É frustrante, devo dizer. Preste atenção em como o recurso da ausência de som ambiente é utilizado para elevar e abstrair o sofrimento de John à imagem de sua filha na ponte. A mesmíssima coisa acontece quando a mãe da menina a vê pela primeira vez na ponte. É uma repetição cansada, sem força criativa, que faz desconfiar dos criadores em certa medida.
Há ótimos momentos e todos eles parecem ser os de Kevin. Sua conversa com John no canil é ótima, assim como o é fato de que ele leva um tiro e entra em sua experiência pós-vida que, a partir de agora, a série parece sugerir, será cíclica, como se ele já não pudesse simplesmente morrer. O ator Justin Theroux – ele e Carrie Coon são os destaques absolutos da temporada – parece chamar para si a responsabilidade de fazer tudo aquilo crível e um tanto embaraçoso. É absolutamente fascinante quando ele se encontra mais uma vez no hotel do além e tem de, por qualquer razão metafisicamente inexplicável, cantar num concurso de karaokê. A maneira como sua voz se parte diversas vezes, com choro contido, embaraço, incredulidade, dor e todo tipo de sentimento que ainda se pode sentir àquela altura, é envolvente e digna de total empatia. A escolha da músisa, Homeward Bound (Simon & Garfunkel), não poderia ser mais apropriada. Tudo o que Kevin sempre quis desde que a temporada teve início foi as chance de poder retornar a sua casa.

O que me leva ao ponto final sobre esse “I Live Here Now”. A música, que fala do desejo de um artista em turnê de voltar para casa, serve de base para todos aqueles personagens que se encontram na casa, na sala de estar, quando Kevin abre a porta. Os criadores certamente tentaram traçar caminhos possíveis e verossímeis de fazer com que aqueles personagens se encontrassem ali. Foi orgânico?, é o que nos resta perguntar. Pareceu natural ao espectador aquele encontro?
Não me leve a mal. “I Live Here Now” tem ótimos momentos, mas devemos julgar a arte a partir daquilo que seu artista já foi capaz de conceber. Um dos momentos mais brilhantes deste episódio foi o bebê de Nora caído na ponte enquanto a manada de hippies pulava sobre ele. O momento de desespero convertido em absoluto desprezo pela vida humana foi muito bem representado.
Devo dizer que, para mim, muita coisa, mas muita coisa mesmo, se perdeu em função do nono episódio. Todo o desenvolvimento da personagem de Megan – no que pese ser interessantíssimo sugerir que os GR inevitavelmente se tornariam um grupo terrorista – arrastou consigo outros personagens satélites de maneira forçada. A história de Tommy poderia ter sido mais interessante. Mas talvez também já seja querer demais. Erros assim sempre acontecerão em função de uma série ser praticamente um malabarismo retórico para que as motivações de cada personagem se encaixem no desenvolvimento da história.
A trama se perdeu com Megan – é a minha sugestão. E com ela, muito do que fora construído. Algumas perguntas se colocaram para uma possível terceira temporada. O que Evie quis dizer a sua mãe ao escrever “Você sabe”? O que Megan quis dizer ao sussurrar “Família é tudo”? (Essa última, porém, pareceu apenas subterfúgio para explicar o encontro final dos personagens em torno de Kevin.) Esperemos então que na terceira temporada se opte pelo caminho que funcionou melhor nessa segunda. Por exemplo, três episódios atingiram seu ápice e todos eles foram centrados em um único personagem, ou em um núcleo – “Axis Mundi”, “Off Ramp” e “International Assassin” – e isso quer dizer muito. Ao tentat manipular incontáveis peças no tabuleiro para atingir o final que haviam traçado, Lindelof e Perrota pareciam menos donos da própria história no episódio final.
Nota: 3.5/5

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