Crítica

[Crítica] No Coração do Mar (2015)

[Crítica] No Coração do Mar

A obra Moby Dick é considerada por muita gente como o grande romance norte-americano; o filme No Coração do Mar, que se baseia livremente no livro de Herman Melville (Ben Whishaw), será esquecido assim que você atravessar a porta de saída da sala de cinema. 

No filme, um jovem Melville,à procura de inspiração para o seu próximo livro, vai em busca de um recluso ex-marinho, Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) – este vive os seus dias bebendo e negligenciando trazer algum dinheiro para a casa, para o desespero total de sua mulher.

À princípio Thomas se mostra muito avesso à ideia de compartilhar a sua história com o escritor, mas acaba cedendo quando a mulher lhe faz um apelo emocionado.

O filme tenta com afinco nos fazer crer que coisas horríveis se passaram com aquele senhor num passado longínquo e que isso, mesmo que ainda não saibamos o que “isso” quer dizer, justifica que ele deixe o resto de sua vida escorrer pelo ralo. A história que começa a contar é sobre quando fez parte de uma tripulação – tinha 14 anos – para caçar baleias a fim de produzir óleo com sua banha. A substância na época em que se passa o filme era o principal subproduto a partir do qual se podia fabricar querosene para lâmpadas e uma grande sorte de produtos, como por exemplo a margarina.

A explicação parece despropositada, mas o faço porque a parte mais interessante do filme trata basicamente de seu aspecto histórico. A prática de baleação (atividade cujos fins estão descritos acima) foi permitida até aproximadamente o ano de 1960. O filme, passado no final do século XIX, faz uma bela descrição visual de como se dava essa caça. É impressionante ver que um punhado de homens sobre barquinhos conseguia capturar uma baleia como se tudo estivesse acontecendo numa arena de rodeio. Os efeitos especiais são a grande estrela do filme, embora em certo momento comece a bater um enjoo de ver animais tão fascinantes recriados em computador.

Owen Chase (Chris Hemsworth) é o herói do filme. Digno, ele deseja ser o capitão de sua própria embarcação, mas é preterido em favor do filho rico de um poderoso. Obviamente, esse filho rico não tem nenhum talento para a tarefa. Uma competição se instala, e é mais um dos elementos artificiais do filme.

Embora trate da batalha entre o homem e a natureza, tentando de alguma forma – na maioria das vezes pateticamente – evocar os temas de Moby Dick, o filme tem um tom terrivelmente artificial e cafona. Tudo é resolvido muito rapidinho. Os personagens não têm como exibir profundidade, e quando o filme tenta sugerir qualquer coisa do tipo o resultado acaba sendo pior.

Termino citando uma das cenas que simboliza o filme como um todo. Após capturarem a primeira baleia, não sem uma batalha intensa, os tripulantes olham aquele animal gigantesco agonizando na água e, todos eles, adotam certo olhar reflexivo, quase melancólico, como se tivessem investigando dilemas existenciais. Esse momento de peso é precedido de uma pequena comemoração por haverem derrotado a baleia. A artificialidade da cena é constrangedora. Qualquer pessoa sabe que é uma cena impossível. Aqueles homens no mar há meses, escalados para matar o quanto mais baleias puderem, não vão ficar tristes porque mataram a primeira depois de tanto tempo de espera.

Enfim, toda época de Natal chega com um esquadrão de filmes que tentam soar revigorantes e funcionam a base de cafonice e lugares comuns.

Nota: 2/5

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