[Crítica] The Leftovers: 2×06 – Lens
Um cientista pouco consciente do espaço alheio toca a campainha dos Murphy para perguntar sobre Evie e é protamente afugentado por Erika. Em seguida ele vai baterna porta de Nora, perguntando o dia em que ela se mudou para Jarden e dando a entender que isso teria algo a ver com o desaparecimento de Evie e das duas meninas. A gente vai entender pelo desnrolar do episódio que um grupo de pesquisadores acredita que Nora é o que chamam de “lente”. Mais sobre isso depois.
O capítulo se concentra da dualidade Nora/Erika. Mais uma vez volto a chamar atenção para a questão da religião na série. Constantemente somos apresentados a personagens que indicariam alguma posição, ou mesmo time, por que não?, nessa dualidade.
De forma alguma a série é condescendente com aqueles que são religiosos (acrescento aqui também os supersticiosos; entendamos religião como o conhecimento anti-científico); muito pelo contrário, ele constantemente põe os personagens científicos diante de dilemas e situações impossíveis de se compreender pelo viés científico.
Não só isso, temos nesse episódo a representação de uma instituição de ciência falando “abobrinhas”. Quando Nora finalmente decide falar com a moça que não para de ligá-la, ela pergunta: “Por que eu? Por que vocês acham que eu sou uma lente?”. Como resposta, ela escuta uma mulher muito séria dizer que acreditam que Nora é o recipiente do demônio Azrael. Nesse momento vemos Nora sorrir. É uma cena fascinante. Completamente ancorada no conhecimento científico, Nora sabe que não é uma lente coisa nehuma, aquelas pessoas que querem investigá-la são loucas. Ainda não sabemos muito sobre os cientistas que vieram à tona na série; mas ao que tudo indica a ciência, como a entendemos, parece não ser a mesma e haver incorporado qualquer coisa do sobrenatural.
O ceticismo de Nora vai dar as caras mais uma vez na cena principal do episódio: a conversa que ela tem com Erika, como se fizesse a sua rotina de questionário governamental. Erika revela que se sente responsável pelo desaparecimento de Evie (os detalhes de por quê ela acha isso são absolutamente envolventes). Nora, do alto do seu trono, diz que é tolo se culpar pelo que acontece no mundo, que não temos explicações de por que algo acontece. A luta verbal que as duas travam é uma das melhores coisas da temporada até o momento.
Não se dobrar totalmente a nenhuma crença, a nenhum determinismo ou certezas científicas faz dessa série algo fascinante de se ver. Outro detalhe que tem se mostrado extremamente eficiente é o talento dos escritores para salpicar detalhes narrativas que são explicados capítulos depois – fazendo da série um produto muito gratificante. Você pode ter certeza de uma coisa: os criadores de The Leftovers não duvidam da sua inteligência.
Carrie Coon
Um momento para considerar o trabalho dessa atriz, que tem sido monstruosamente bom. Como Nora, Carrie consegue apresentar uma paletaaparentemente infinita de emoções, principalmente quando ela precisa comunicar as coisas de maneira contida. É um prazer assisti-la todos os domingos. Sua atuação jorra da tela; acredito que seja – e é sempre precipitado dizer algo assim – a melhor atriz hoje numa série de TV.