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[Crítica] O Final da Turnê (2015)

[Crítica] O Final da Turnê
Em 1996, foi publicado um dos romances mais influentes das últimas décadas, Infinite Jest, do autor David Foster Wallace. O romance ficou célebre mais pela sua extensão, incríveis mil páginas, do que pelos temas que busca abordar. O filme O Final da Turnê busca retratar os últimos dias da turnê literária que Wallace realizou para promover o livro.

Contado a partir da perspectiva de David Lipsky, jornalista que acompanhou o autor por cerca de uma semana, que, apaixonado pela obra de Wallace, tenta escrever um perfil a ser publicado na revista Rolling Stone.
Jason Segel ficou encarregado de incorporar Wallace e fez um belo trabalho. Estão ali os trejeitos do escritor – que não saem de maneira alguma caricatos – e a fala com um toque de sotaque sulista. Segel captou bem uma trsiteza e desencanto profundos que parecem habitar o autor a qualquer hora do dia. Wallace sofria de depressão, viveu grande parte da sua vida medicado e, tristemente, veio a cometer suicídio em 2008, deixando para trás a mulher e uma obra inacabada (mais tarde publicada sob o nome de The Pale King). Já o jornalista deslumbrado ficou a cargo de Jesse Eisneberg.
Eisenberg faz trabalho igualmente competente e por vezes causa irritação no espectador ao retratar um jovem escritor tão ingênuo ou, podemos dizer, embasbacado com a ideia do fazer literário – como se fosse algo mágico em oposição a trabalho duro e por diversas vezes solitário e tedioso. Seu retrato do jovem Lipsky é muito bom e gera o que o filme tem de melhor: a tensão entre aqueles dois escritores (um realizado profissionalmente mas vazio; outro medíocre mas cheio de certezas sobre o que sifgnifica ser um escritor).
Com essa montagem o filme acerta em cheio por não ser nem um pouco pretensioso. Imagens de grandes paisagens cobertas de neve refletem o estado devastado do interior do escritor perfilado na tela. Embora seja um filme construído quase inteiramente por meio de diálogos, ele funciona, não fica entediante – talvez pela constante mudança de cenário, já que eles viajam de carro entre uma cidade e outra; a sensação é de um road movie existencial.
Onde o filme pode errar um pouco – e mesmo assim é um detalhe muito pequeno a se considerar a natureza dos filmes (que é de cortar conscientemente muito do que não tem tempo de abordar) – é na doçura excessiva que imprime a Wallace. Digo excessiva porque, ao se conhecer um pouco mais da biografia dele, sabe-se que o autor podia ser extremamente desagradável para as pessoas a sua volta. O filme trata disso com uma simples confissão, que passa meio que batido, quando Wallace diz: “Eu não sou de trato fácil”. Não é o que se vê durante todo o filme.
Em muitos sentidos, me lembrou Amadeus; especialmente como se concentra na cabeça de um artista menor tentando entender o outro, ou mesmo vencer o outro. Salieri buscava vencer Mozart a partir do aspceto mais prático da vida, com poder e dinheiro; Lipsky tentou vencer Wallace a partir de uma desenvoltura social mais desenvolvida. Os dois artistas menores sabem, sem sombra de dúvidas, que aquela obra com que se depararam foi de alguma forma decisiva para que adotassem mais rapidamente o seu lugar sem holofotes no universo da arte.


Nota: 4/5 

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