[Mostra Cinema SP 2015] Minha Irmã Magra
Minha Irmã Magra é um drama sobre transtorno alimentar visto através dos olhos da irmã mais nova de uma família disfuncional. O filme ganhou o prêmio Urso de Cristal do Festival de Berlim, menção especial do juri internacional e prêmio do público de Melhor Filme Nórdico em Gotemburgo.
Esse é o primeiro trabalho da roteirista Sanna Lenken, que consegue tratar desse tema difícil com leveza e toques de humor. Stella, interpretada pela ótima e novata Rebecka Josephson, idolatra sua irmã mais velha, Katja (Amy Diamond), uma talentosa patinadora de gelo que parece ter maior parte da (pouca) atenção de seus pais.
Stella passa os dias escrevendo poesias eróticas sobre o treinador de Katja, Jacob (Maxim Mehmet), de quem tem uma paixonite. A medida que o tempo vai passando, Stella percebe que Katja não está tão feliz e imagina que tem algo de errado. Os pais não percebem que Katja treina sem parar, no gelo e em casa, e é obsessivamente meticulosa com seus hábitos alimentares. Em certa cena, Katja demais durante um treino. A partir daí Stella entra no mundo de sua irmã, sem contar o que está acontecendo para mais ninguém.
O filme tem como um de seus trunfos contar sobre distúrbios alimentares de acordo com o ponto de vista de alguém mais jovem, que não está passando pelo problema diretamente. O filme consegue mostrar uma relação bem realista entre as duas irmãs e as atrizes inegavelmente têm química, além de terem certa semelhança física.
Em algumas partes, Stella demonstra curiosidade sobre sexo, romance e meninos, e sua irmã responde com uma comédia cruel, que faz Stella ficar com aquilo na cabeça. Mas o irônico é que Katja é a única ali com problemas reais, sofrendo secretamente com anorexia e bulimia e tentando alcançar a perfeição na patinação no gelo. Quanto Stella descobre sobre o transtorno alimentar, Katja a chantageia.
A atriz que interpreta Stella leva o filme a um outro nível, deixa a personagem extremamente carismática e encantadora. Ela consegue ser cativante e natural tanto quando fala sueco quanto quando resolve falar em inglês fluente para flertar com o professor.
E o envolvimento dos pais com o problema também é interessante. Inicialmente, eles não têm ideia do que acontece. Quando Stella resolve contar, primeiramente não acreditam. Após acreditar, se recusam a procurar tratamento, dando alguns dias para Katja “voltar ao normal” em casa. Mas, claro, isso não acontece, e o problema só piora.
Apesar de um terceiro ato bem corrido, sem tanta profundidade assim, vale assistir ao filme para ver esse tipo de problema a partir de uma nova perspectiva, além de se encantar por Stella. Também não sabemos a fundo quais são as motivações e angústias de Katja, mas isso pode ser perdoado, já que tudo é contado a partir do ponto de vista de Stella. E o filme acaba com um ar otimista.
Duas curiosidades: Essa não foi a primeira vez que a roteirista tratou do tema. Em 2013, Sanna Lenken estreou curta-metragem Eating Lunch, que também trata de transtornos alimentares, algo que ela já vivenciou. Já a atriz que interpreta Katja foi uma famosa pop star da Suécia.
Nota: 4/5