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[Mostra Cinema 2015 SP] Homesick

[Mostra Cinema 2015 SP] Homesick

Bergman disse que o rosto humano é o grande assunto do cinema, que tudo está ali, no rosto. A afirmação parece incontestável depois de assistir a Homesick, filme norueguês da diretora Anne Sewitsky. O filme é todo construído a partir do rosto de Charlotte, interpretada por Ine Marie Wilmann; a expressividade, mesmo quando contida, dessa atriz permite o envolvimento e empatia profundas do espectador. Há muitos closes, e planos fechados sem que jamais pareçam um recurso exagerado. Além de ser um triunfo de atuação, o filme sabe abordar de maneira relevante um tema difícil.


Charlotte nunca conheceu seu meio-irmão. Mas, de maneira tensa, descobrimos que ela já sabe onde ele mora e que, vez por outra, passa pela frente da casa, quando não para e fica olhando. O irmão vai atéseu local de trabalho (ela é professora de balé para crianças) pedir que ela pare imediatamente e que o deixe em paz.

De maneira simples, somos apresentados ao conflito central do filme. Charlotte quer conhecer o irmão; mais que isso, parece ser forte dentro dela o desejo de possuir uma família, digamos, convencional. Sua mãe estuda literatura feminista do outro lado do oceano e o pai agoniza num hospital. Quando o meio-irmão (Simon J. Berger) dá uma abertura, ela aproveita a oportunidade. Os dois saem pela primeira vez para tomar uma cerveja e conversar.

Numa das sequências mais delicadas do filme, vemos os dois aprendendo como lidar um com o outro, ou tentando evitar pensar em como se deve lidar um com o outro. Todo o comportamento de Charlotte pode ser entendido como sedutor, com meios sorrisos e olhar constantemente submisso; o comportamento de Henrik também: ele a deixa sem graça em frente a um grupo de estranhos, para depois ter uma conversa íntima. O tipo de hesitação no comportamento dos dois vai construindo tensão no espectador que já começa a entender o único destino que pode ter esse encontro.

A primeira vez em que os dois fazem sexo é atuação no seu melhor. Ine Marie é capaz de comunicar nesses poucos segundos um turbilhão imenso de questionamentos e emoção. O momento não é nada romântico, como podia se esperar, e parece invadir o espectador da mesma forma como acontece com Charlotte.

Acompanhamos, como que numa autópsia sentimental, o que se passa com Charlotte: como ela vai trabalhar agora?, como ela vai dormir agora?, o que vai dizer ao namorado? Tudo é filmadocom muita sensibilidade e verossimilhança. Algo assim, pensamos, poderia acontecer facilmente.

Passada a fase da lua de mel (se é que se pode chamar disso), ela vai caindo na real e começandoa contemplar o desfecho necessário que a história deve ter. Nesse momento, o filme nos entrega  cena mais fascinante e bem trabalhada de todas: o primeiro reconhecimento de que os dois são, afinal de contas, irmãos. Chateado com Charlotte, Henrik lhe puxa o cabelo, empurra-a; ela responde empurrando-o de volta e lhe dando um tapa. Mas a briga não é grave, não traz desfecho; antes, revela imaturidade e se prolonga – como aconteceria com irmãos pequenos.

Enfm, o filme acerta cada prego que tenta acertar; e vale senão apenas pela atuação de tirar o fôlego da impressionante Ine Marie Wilmann.

Nota: 5/5

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