[Mostra Cinema SP 2015] A Ovelha Negra
Quando a gente pensa sobre a Islândia, o que vem à mente? Certamente gelo; depois pode até se pensar num povo simpático. Duas opções corretas. Adicione a elas ovelhas, muitas ovelhas, e você vai saber um pouco do que é a Islândia.
Em A Ovelha Negra, filmeque compete por uma vaga no Oscar representando a Islândia, mergulhamos em algo que, segundo disse o diretor do filme Grímur Hákonarson, presente na projeção, é um forte símbolo da cultura de seu país. (“As ovelhas têm um alto status”, disse ele.) Infelizmente, uma das ovelhas apresenta sintomas da doença conhecida pelo nome scrapie. Trata-se de uma séria condição que ataca o cérebro dos animais e rapidamente os degenera. A doença é altamente contagiosa e, uma vez que outras são infectadas, todos os animais devem ser abatidos.O caso acontece de vez em quando no país e espalha desolação entre ovinicultores.
A história se centra nesse episódio e o que ele gera na relação extremamente abalada de dois irmãos, que são, ainda por cima, vizinhos. Não há nada por perto, apenas as duas casinhas e amplos espaços pelos quais as ovelhas devem passear, comer, viver. Um dos irmãos parece aceitar o seu infortúnio de maneira mais madura; o outro, da pior possível, bebe e berra, e dá tiros na casa do irmão, que culpa pelo que aconteceu.
Regularmente, agentes do governo passam por lá a fim de saber de medidas já foram tomadas, como limpar todo o estabelecimento depois de as ovelhas serem sacrificadas.
Descobrimos mais na frente que o irmão, aparentemente sensato, guardou para si, no porão, algumas ovelhas. Achei o momento mais bonito e intrigante no filme. Foi como ser revelado a algo muito secreto de uma cultura estrangeira. O carinho desse ovinicultor por seus animais é diferente do que se pode imaginar que tenha um, digamos, criador de gado. Uma cena em paticular é especialmente tocante: o irmão lê um livro ao lado das ovelhas, como se o som delas, sua própria respiração, o acalmasse.
Obviamente, essa situação não pode se sustentar. No terceiro ato, há momentos hilários e de partir o coração. O filme é uma bela fotografia de um lugar, de uma cultura e de sua sensibilidade. Saímos do filme sentindo um respeito que antes não havia, por desconhecimento, por uma nova cultura.
Nota: 4/5